Erasmo Figueira Chaves
Enfoque de uma “sem eira nem beira”,
Era o daquela outrora brasileira,
Atarefada a servir a tudo, e a todos, como ancestral lavadeira,
A lavar roupa à ribeira,
Apta a todo o serviço, nada preguiçosa ou brejeira,
A limpar a “meia pipa ou tina de banho” à laia de “boa banheira”,
Pobre, analfabeta, sorridente e faceira
A prestar generosos serviços de mãe preta, babá e mamadeira,
Sem contudo, reconhecer-se-lhe devidamente o brio, sentido, à maneira
Com a qual, livre e ligeira,
Devolvia brancura ao lençol e à sujeira
Da roupa, enegrecida à fumaça, da úmida lenha crepitante da lareira
E, no rústico atarefar ao constante cozinhar, desde a primeira
Hora do dia, até chegar prostrada à canseira,
Já tarde à noite, nada benigna nem alvissareira.
Nessa agrura diária, repetida e costumeira,
Sem leveza nem brisa que amenizasse sua olheira,
Do cansaço e imensa trabalheira.
Mas, entretanto, consciente, até contente, sobranceira,
A cumprir “dever”, como se fosse brincadeira,
Ao despertar disposta, já sem qualquer indisposição ou pasmaceira,
A cantarolar, ao rolar o som do engenho ou cachoeira,
A repetir o dia, sem gemido, protesto, raiva, sem dizer asneira ! . . .
Mas, a agradecer a benção de sobreviver, a tanta demanda grosseira,
A compor, a cumprir sobremaneira,
O rigor imposto, sem questionar, alvitrar o que à alma abranda e aligeira,
Sem a tanto jamais adivinhar-lhe sordidez, origem injusta e sorrateira . . .
Cabreúva, 8/3/2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário