Gildo Raldi
Aristóteles era o mais importante discípulo de Platão. Representa o aspecto científico da Academia platônica. Platão era simultaneamente poeta e pensador – Aristóteles é o tipo autêntico do homem de ciência. Mas falta-lhe a imaginação do seu grande mestre, o poder que este tinha de pensar com símbolos e de oferecer aos seus leitores um prazer puramente artístico. Aristóteles é uma natureza seca, abstrata, mas possui a profundidade, a minúcia e o juízo cuidadosamente ponderado doa autêntico sábio. No entanto, também se pode descobrir em Aristóteles alguma coisa da ironia e do humor de Sócrates, mesmo quando endurece até a sátira. Deste modo, atribui-se-lhe a seguinte frase: “Os Atenienses descobriram duas coisas: a agricultura e a redação das leis. Vivem do trabalho da terra, mas deixam as leis sem emprego.” O pensamento de Aristóteles é analítico: divide tudo nas suas partes constituintes, enquanto Platão toma sempre como ponto de partida a imagem completa. O pensamento de Aristóteles está para o pensamento platônico como uma estampa anatômica está para silhueta de um homem vivo.
Aristóteles tinha 17 anos quando se tornou aluno de Platão isto ocorreu em 637 e durante vinte anos, até a morte do mestre, pertenceu à Academia.
Cinco anos depois da morte de Platão, o sei Felipe da Macedônia convidou Aristóteles para preceptor do príncipe Alexandre, então com a idade de 13 anos. Assim, durante dois anos, o grande filósofo pode exercer influência sobre o excepcional jovem a quem a posteridade ia pôr o nome de Grande. O jovem príncipe revelou desde muito cedo um verdadeiro amor pela cultura grega, amor de que Aristóteles deve ter sido o instigador.
Em 355 Alexandre subiu ao trono da Macedônia. Nesse mesmo ano Aristóteles regressou a Atenas, onde fundou uma escola filosófica. Esta estava situada muito perto de um campo de jogos chamada Liceu e ainda hoje achamos a forma latina desta designação (liceum “liceu”) no nome de certas escolas: Trabalhava-se intensamente, não só nos diversos domínios da filosofia, mas também no das outras ciências: a grandeza de Aristóteles é devida, em grande parte, ao seu excepcional domínio de todas as ciências da sua época.
No domínio filosófico, Aristóteles estava imbuído da doutrina platônica. O seu pensamento conservou o fundo desta doutrina, mas deu-lhe uma forma mais acessível.
Platão considerava as idéias quase como seres superiores e independentes que viviam num mundo diferente do dos sentidos. Aristóteles coloca as idéias no mundo sensível e afirma que elas habitam em cada coisa, tal como um artista habita o bloco de mármore de eu faz uma obra-prima.
A grandeza da filosofia de Aristóteles não assenta na metafísica, mas na lógica. Sócrates e Platão ocuparam-se bastante de pesquisas lógicas e, sobretudo, com o problema de encontrar conceitos e regas exatas para o pensamento. No entanto, foi Aristóteles o primeiro a sistematizar a lógica, criando assim um auxiliar intelectual precioso. Deu aos pensadores, aos oradores e aos escritores o meio de distinguirem as conclusões falsas das exatas. Na Idade Média os seus escritos sobre a lógica foram os manuais mais importantes usados nas universidades, sobretudo na forma que lhes foi dada pelo pensador português Pedro Hispano, o famoso Papa João XXI. A lógica de Aristóteles foi igualmente importante para a cultura maometana. Nos outros domínios da ciência, a força de Aristóteles assenta, por um lado, na minúcia dos seus métodos de pesquisa e, por outro, na sua habilidade em ordenar os fenômenos e em tirar deles uma síntese; ele mostra quais as leis a que obedecem os fenômenos terrestres e explica a sua interdependência.
Foi um trabalho de paciência o inculcar nos seus alunos as regras da experimentação científica, assim como ensiná-las a observarem os insetos ou os vermes de um ponto de vista científico, ou a examinarem as entranhas dos animais sem sentir repugnância. Aristóteles repetia constantemente aos seus estudantes que tudo na natureza, mesmo a coisa mais insignificante, é, por si só, uma pequena maravilha.
Aristóteles foi o primeiro a abrir-nos as portas do mundo animal: divide-o em vertebrados e invertebrados, por seu turno, dividido em mamíferos, pássaros, peixes, répteis e anfíbios. Sabe que a baleia não é um peixe e que o morcego não é um pássaro, mas que ambos são mamíferos.
Aristóteles revela uma modéstia muito simpática.
Escusado será dizer que os métodos científicos de Aristóteles, por muito rigorosos fossem para sua época, não poderiam suportar a comparação com os métodos da ciência moderna. Aristóteles pôde, durante doze anos, trabalhar no Liceu numa paz absoluta. Mas, quando da morte de Alexandre, em 323 a.C., desencadeou-se uma guerra de libertação entre os Gregos e os Macedônios, que dominavam na Grécia desde a época de Felipe. As relações de Aristóteles com a casa da Macedônia já antes o tinha tornado suspeito aos olhos dos ”amigos da liberdade”, os quais começaram então a insinuar que o Liceu era um centro de espionagem macedônia. Aplicou-se a Aristóteles o método tradicional e acabou por ser acusado de “Impiedade”. Mas antes que pronunciada uma condenação à morte, o filósofo voltou às costas a Atenas com estas palavras: “Os Atenienses não cometerão, pela segunda vez, um malefício contra a filosofia”. Encontrou refúgio na Eubeia, onde morreu no ano seguinte, com a idade de 62 anos.
Aristóteles fez mais pela civilização do que qualquer outro sábio. Quinze séculos depois da sua morte, um dos maiores espíritos da Idade Média ainda o designa por “mestre de todas as ciências”.
Aristóteles foi o homem que deu à ciência o seu lugar de honra deve-o ela, em grande parte, aos métodos de pesquisa que ele criou. Constituiu os seus métodos de investigação sobre a base sólida da investigação concreta.
Fonte consultada: História Universal – Grécia Imortal, autor Carl Grimberg, ano 1989.
23/02/2005
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