Erasmo Figueira Chaves
Repassando
os olhos, por minha imperdoável empoeirada biblioteca, dou de cara com o
livrinho de Erasmo, o meu Xará, intitulado “Elogio da Loucura”, a
soberba ironia de uma obra dedicada a seu dileto e ilustríssimo amigo
Thomas Moro, a que, de imediato, dei breve repasso, aqui ou ali, à
leitura já de longa data, da minha juventude. Da tremenda risonha
atualidade da temática e sua acuidade com as evidências objetivas da
nossa sociologia prática e política atual, não consigo evitar a
tentativa de registar do longo discurso desse “Elogio irônico”, que a
própria Loucura, personagem, se analisa em discurso público. A acuidade
atual do mesmo, que se resume no breve capítulo das “Companheiras da
Loucura”. Fica claramente demonstrado na perspicácia do autor, que além
de analista meramente risonho das tantas circunstâncias sociológicas
captadas na história, a lentidão evolutiva de princípios evolutivos e da
dignidade humana, confirmadas no século XVI, era ele, sem dúvida, um
grande perscrutador profético. Demonstrado fica, em sua profunda ironia,
quão longe dele estamos, a objetividade, a lucidez na forma de sua
crítica, no processo visionário evolutivo da dignidade humana, o
comportamento sociológico, a responsabilidade ética, moral, crescentes,
geral e política das sociedades, entre as quais, inapelavelmente nos
encontramos.
Assim
discursa a LOUCURA: “AS COMPANHEIRAS DA LOUCURA”:“Esta de sobrancelhas
franzidas é Philautia, isto é, o amor próprio. Esta, de olhos risonhos,
batendo palmas é Kolaxia, a adulação. Aquela, de pálpebras cerradas,
parecendo dormir é Lethes, o esquecimento. E aquela que se apóia nos
cotovelos e cruza as mãos é Misoponia, a preguiça. Aquela que está
coroada de rosas, toda perfumada é Hedones, a volúpia. Aquela que revira
os olhos sem fixa-los em ponto algum á Anoia, a irreflexão. Aquela bem
nutrida e bem corada é Tryphe, a moleza. Entre essas jovens, estão
também dois deuses: um é Komo, a boa mesa e o outro, Nigreton Hypon, o
sono profundo. Acompanhada por esses servidores que fielmente me prestam
ajuda, estendo meu domínio sobre o mundo e reino até mesmo sobre os
monarcas. . .” Recomendo a releitura plena do “Elogio da Loucura”, de Erasmo de Rotterdam. De tremenda atualidade.
15/7/16
Nenhum comentário:
Postar um comentário