Erasmo Figueira Chaves
Imaginemos o que seria uma conversa entre mudos e surdos. Suponho evidentemente, que deverão eles dominar entre si, algum tipo de linguagem, somente por eles entendível ou compreensível. Para eles a audibilidade, ou a verborragia, a qualidade de ouvir, de ser audível ou a de falar, exprimir com palavras, conversar, simplesmente não existem. Felizmente, ou infelizmente ? !... Vejamos:
Se os privilegiados pela Graça Divina, no uso de todas as faculdades e privilégios maravilhosos da natureza, como o são a audição, a fala, a linguagem, a inteligência, a razão, o raciocínio, a emoção, a sensibilidade para a percepção das coisas e valores, das cores, dos aromas, e em grau mais evoluído, das sutilezas da ética e o sentido arguto a perscrutar fundamental e naturalmente exigência humana inteligente e intrínseca, a indagar, a penetrar segredos inerentes à vida, inquietação e percepção que por princípio e direito universal, a todos os humanos iguala em diferentes medidas e estágios evolutivos, que igual e claramente os diferencia dos outros animais, destituídos que são de todas essas manifestações psíquicas e culturais evolutivas, diferenciais tão dignificantes da natureza humana, nada pode parecer entretanto tão ultrajante, injusto, exorbitante, que a existência possível desse anátema, essa condenação inevitável que execra alguns seres humanos do postulado e virtude da igualdade, que conscientemente nos comove, ante a possibilidade concreta de assistirmos a um tal diálogo entre “surdos e mudos”, de seres iguais a nós, nossos irmãos portanto. Mas essa é afinal a composição da nossa natureza existencial, condicionada como bem sabemos às imposições inevitáveis e hereditárias de nosso DNA.
Na imaginação aventada acima, da hipotética conversa entre “surdos e mudos”, esses seres, nossos irmãos, iguais, mas inabilitados da capacidade da fala, para fácil entendimento de todos e igualmente da audição, mas não evidentemente destituídos das outras faculdades e percepções humanas, não os inibe ou livra entretanto de se submeterem, aqui ou ali, a situações engraçadas e risíveis, avidamente por avoleza, insensibilidade, superficialidade ou índole cruel, corriqueira maldade, ante os circunstantes, genérica e fundamentalmente iguais .
Mas permitam-me uma atrevida alusão. A verdade verdadeira, é que a sociedade em geral, no dia a dia, no comércio, na sociologia imperante, nas organizações políticas nacionais ou internacionais, na Igreja ou nas religiões, como fenômeno de um todo mundial, apesar da anomalia, é que a espreita inconsciente, a oportunidade constantemente repetida, de falar-se o que se pensa, de ouvir-se apenas o que interessa, sem interlocução, de enquadrar-se como personagens dessa hipótese, risível : a de uma conversa que se eterniza entre “surdos e mudos”, não se constitui necessariamente como a expressão evoluída do estágio da almejada civilização e dignidade humana, proclamada. Cada um fala e ouve segundo as suas limitações. Jamais considerando as limitações do outro. Um mundo da “Sem razão”, onde os inimigos de ontem são os amigos de hoje e vice-versa, a ilógica dos julgamentos sub-reptícios de conveniência política, não importam as enormes incongruências, ilógicas ou confusas ilusões. Assim tem sido na história. Assim é a história presente, seja o problema judaico-palestino, a revolta na Síria, no Egito, na Turquia, no Iran, as ameaças com os exemplos punitivos pela hecatombe da morte de 1.400 pessoas pelo uso de gás Sarin, ou, não o esqueçamos, as incoerências políticas de toda ordem, no âmbito nacional. Basta que passemos a voo de pássaro, um olhar breve pelas diferentes Assembleias, tantas sem o necessário rigor descritivo estatutário, as reuniões de cúpula mundial, as das sociedades, clubes desportivos os mais diversos, condomínios, etc. etc. As espionagens eletrônicas, as pretensas ofensas, o reconhecimento dos conscientes ou inconscientes pecados, as radicalidades e retaliações. Os aspectos, as falhas e as preocupações humanitárias. Mas é essa sociedade que pretende estar a comandar os destinos da humanidade, em busca de uma “Igualdade, Paz e Justiça”, com linguagens tão distantes e incompreensíveis ao entendimento real, ao consenso comum inteligente, como são em geral aparentemente as “Conversas de Mudos e Surdos”, intentando comunicar-se, cada um buscando dizer em sua muito particular forma de comunicar-se, tentando dizer sem pronunciar, esforçando-se por ouvir sem audição, sem importar fundamentalmente se a forma de dizer e ouvir, tem interpretação correspondente inteligente, ao contrário ou ao oposto, produzindo-se apenas barulho, o tagarelar comum da casa onde “todos brigam e ninguém tem razão”. Tão provavelmente comum na era do “Troglodita”, lá tão distante na história da evolução, onde provavelmente não importava tanto a comunicação inteligente, inteligível, eficiente com o semelhante.
DIGNIDADE:
D I G N I D A D E
Erasmo Figueira Chaves
Ver o que vejo sem o ver,
Sentir o que sinto ao me sentir,
Dizer o que digo ao o dizer,
Pensar o que o pensar me permitir,
Traz-me a sutil consciência de fazer
Simplesmente, a tentativa na ação a assumir
Bondade evolutiva, na verdade e no prazer,
Quanto o é viver já dignidade, que há de vir !...
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