Erasmo Figueira Chaves
Citar um poeta, nada menos que o
grande Fernando Pessoa, na fraseologia costumeiramente usada como
lema, na nossa querida Loja simbólica "Libertas de Salto", é enaltecer
sobremaneira, em beleza e conteúdo, quanto poeticamente é dito em
dimensão, respeito e conteúdo lírico, o que tantas vezes a prosa, como o
tentemos expressar, não consegue simples e emotivamente transmitir:
Deus quer,
O Homem sonha,
A Obra Nasce ! . . .
Eis a nossa realidade, tão sintética e belamente
definida: Deus quis, O Homem sonhou e a Obra nasceu confiante,
fulgurante e expandiu-se ricamente, multiplicando aquele sentir de
pequeno grupo fundador, semeador de semente profícua e frutificante em
realidade tão grata e estimulante.
Hoje queremos saudar, o aniversário de nascimento do
grande Homem de Letras, não só da grandeza de nossa língua pátria, mas
da virtude divina da inteligência e intelecto mundial, o irmão nosso em
espírito, que nos brindou a inspiração do expressivo lema, que orna a
nossa Bandeira da ARLS "Libertas de Salto", princípios salutares
civilizadores, esperançosos, generosos, transcendentes, tele teológicos,
obedientes à nossa fé de fieis maçons, simples e confiantes seres
humanos seguidores respeitosos e conspícuos da vontade do G:.A:.D:.U:.
(O Grande Arquiteto do Universo)
E porquê a Obra nasceu, estabilizou-se e expandiu-se ?
Porque estava sinceramente vocacionada a SERVIR, a dar-se, que é o
LEMA, o mandamento sublime do CRIADOR, do G:A:.D:.U:., através de seu
amantíssimo filho: "Não vim para ser servido, mas para SERVIR ! . . . "
Estes extraordinários Lemas de análise sociológica
transcendente da justiça, do dever, do amor e da ação que transcende a
natureza física das coisas, têm tido no tempo a preocupação de vários
expoentes das letras e da inteligência, dádivas sublimes do pensamento e
do espírito pragmático da ética e da moral, como no privilegiado
intelecto de outro grande vate glorificador e estruturador de nossa
língua pátria, essa maravilhosa com a qual hoje nos comunicamos, que nos
diz, lavrado lá pelos idos de 1550, apenas cinquenta anos após o
descobrimento do Brasil, o extraordinário Luiz Vaz de Camões, exarado
com amor crítico, concretado no famoso "Lusíades", dizendo-nos com
aguda percepção sócio psicológica, em seu "Ao desconcerto do Mundo",
falando à eternidade, conclamando à consciência evolutiva:
"Os bons vi sempre passar no mundo graves tormentos.
Mas para mais me espantar, os maus vi sempre nadar em mar de
contentamentos. Buscando alcançar assim o "BEM" tão mal ordenado, fui
mau, mas fui castigado. Assim que só para mim, anda o mundo concertado !
. . . " Verdadeiro e inexorável lamento, sentimento de frustração sem
dúvida, comparável talvez com aquela sublime expressão do Grande
mensageiro de todos os tempos, quando em pleno humano sofrimento
implora ao G:.A:.D:.U:., soltando a impressiva expressão de sua
frustração, na oração às vésperas do seu inigualável martírio: "Pai, se é
possível fazer passar de mim esse cálice . . . e, logo recapacitando-se
de sua missão espiritual transcendente, completa, rendido à
TRANSCENDÊNCIA: mas faça-se a Tua Vontade !!! . . ." . Sentimento Santo
de "perda" mas perda "vitoriosa", pois tinha uma MISSÃO a cumprir: a
MISSÃO de "SERVIR" em primeiro lugar: Servir de exemplo à transcendência
do Bem e do Amor universal humanitário, ante a corriqueira mentalidade
geral irônica e cômoda do "não me comprometas", exemplo de
transcendência do BEM e do AMOR, que realizam no tempo histórico a
evolução da matéria egocêntrica animalesca, aos princípios mais
elevados redentores da edificação da humanidade e da irmandade, à
verdadeira, consciente e responsável JUSTIÇA, da Liberdade, Igualdade,
Fraternidade, à virtude e vitória de postulados sobre a ignominiosa
injustiça da crassa e rude ignorância, a obnubilação do pensar sério e
compenetrado, à assunção de missão e responsabilidades, à confirmação
da supremacia dos valores superiores do espírito transcendente, do
caráter espiritual sobre a vilania do mal, do erro e do natural
primitivo egoísmo crônico.
Que lenta é a evolução !!! Que lerda !!! E no entanto
para o convicto homem de bem, seja um maçon ou homem de autêntica fé,
essa ação lenta e milenária imensa, mas profícua afinal, já chegou,
revelou-se na generosa e esperançosa crença em um G:.A:.D:.U:. que atua
no tempo e na história através da ação inteligente de seus verdadeiros
agentes fatores, SERVIDORES, trabalhadores humildes, construtores,
verificando, com visão crítica, honesta e sã, identificando onde o mal
age e como age, contrapondo-se estruturalmente com os remédios
balsâmicos do exemplo pessoal vivencial e da análise dialogante
abalizada: Assim historicamente já assistimos à conquista da abolição da
escravatura, aos postulados propalados dos direitos humanos, corolários
da tão brilhante aspiração iluminista da Liberdade, Igualdade,
Fraternidade, plenos de humanidade e civilização.
Voltemos entretanto a citar Camões, ao seu
visualizar em pleno século XVI, os males do atraso e da corrupção que
ainda nos limitam tanto:
". . . No mais, Musa, no Mais, que a Lira tenho
destemperada e a voz enrouquecida, e não do canto, mas de ver que venho
cantar a gente surda e endurecida.
O valor com que mais se acende o "ENGENHO", não no dá
a Pátria não, que está metida, no gosto da cobiça e na rudeza, de uma
agastada, insana e vil tristeza ! . . ." A quem Camões, em pleno século
XVI está dirigindo sua mensagem ? Apenas aos seus contemporâneos, ao
Rei, à nobreza ou à eternidade, cujo vibrante conteúdo profético podemos
aferir hoje, mais de 450 anos depois, em nossa presente sociologia? Não
nos conclama a meditar, a repensar-nos? . . . A conscientizar-nos? . .
.
Eis a lucidez do espírito, que nos orienta e
responsabiliza na crítica a combater a injustiça, a corrupção, o
enrustido egoísmo do atraso "involutivo" e a produzir a Libertação da
ignominiosa ignorância, que perversa e primitivamente presente, tanto
dificulta e impede o estabelecimento da concórdia, da compreensão, do
perdão, da lucidez, da união, da Paz, do exercício inteligente dos
recursos da mente construtiva, da aspirada EDUCAÇÃO, ORDEM E PROGRESSO
do verdadeiro "Reino de Deus" na terra.
Como vêm caros irmãos dos diferentes credos
religiosos e confissões cristãs ou não cristãs, irmanados em autêntico,
natural, real, generoso, prático e espiritual ecumenismo, na necessária
e pragmática análise da longa marcha evolutiva, histórica, geológica e
arqueologicamente comprovada pela teoria de Darwin, a conquista de
patamares de dignidade, civilização e humanidade, não nos têm faltado
desde os primitivos tempos de Abraão, Moisés, Mahomé, Buda, Jesus,
pensadores, atores sensíveis ao espírito transcendente, intelectuais e
cientistas, revelações ao processo de PENSAR, praticar e visualizar a
concepção da JUSTIÇA, O BEM COMUM, sensibilizações metafísicas, luz,
visão da maneira pessoal de avaliar e aperceber aquilo que é direito,
certo, que é justo, o princípio moral em nome do qual o direito deve
ser entendido longânime e respeitado, luminares extraordinários
inspirados na orientação transcendente até os dias de hoje, através dos
autênticos profetas, religiosos, sábios, filósofos, professores,
cientistas, escribas, pensadores e poetas, exemplos de humildes
servidores, padrões de moralidade e ética, em inspirações práticas,
palavras edificantes, vidas e dedicações abnegadas, técnicas, lúcidas,
literárias, em respeito e coerência à essência das normas, valores,
virtudes, prescrições e exortações que verdadeiramente nos conscientizem
e orientem, inspirada visionária e inteligentemente, das qualidades
morais particulares dignificantes da cândida pureza, das beatitudes, a
serenidade evocada pela contemplação da beleza da natureza, das boas
qualidades, da culta tendência inata para as boas ações na sanidade do
espírito, justificantes de nossa realidade evolutiva, da bondade
imanente, como verdadeiros seres humanos, atribuindo-nos com aparente e
imodesto orgulho, arrogante ou vaidosamente, estar à cabeça de todo o
espectro dessa evolução, dessa fantástica criação, dotados de
inteligência e razão, tendo sido concebidos "nada mais nada menos", à
imagem e semelhança do Grande Arquiteto do Universo. Pretenciosismo?
Ou desafio de um ego, eternamente proposto à aspiração responsável mais
sublime ? . . . Mas na realidade objetiva dos fatos e da imensa,
imemorável história, muito embora reconheçamos algumas importantíssimas e
relevantes expressões dessa evolução fantástica, carecemos, e como
carecemos, em termos de humanidade e civilização, do padrão aspirado e
amadurecido da RESPONSABILIDADE consciente, individual e coletiva sobre
questões básicas tão importantes como maturidade , interdependência,
liberdade, igualdade, fraternidade. Nada a ver com naturais interesses
pessoais e tendências egocêntricas de sub-reptícia manifestação e
escondida autenticidade. De certa forma, aqui ou ali, ainda aparecem, e
como, estigmas de imaturidade, impressivos resquícios, explosões e
expressões egocêntricas tão característicos de nossa primitiva origem.
Permanecem claros vestígios concretos, vívidos e dantescos documentos do
"troglodita", no rápido instintivo e inculto concluir ou no agir
impensadamente, no deixar aflorar, extravasar, emotiva e desbragadamente
um ego descontrolado pela ambição desmedida, fatores ineludíveis, a que
o SER ou o não SER, não se furta ou esquiva, que estão animalesca e
coletivamente em nós, por mais que tentemos ignorá-lo por rejeição,
obnubilação, ignorância, preconceito, superior pretensão, arrogância,
atraso, instintivo horror, repúdio, auto promoção ou incapacidade de
auto análise.
A nossa responsabilidade para com a Vontade de Deus
criador, o inspirador e Grande Arquiteto de todas as coisas, os bens
transcendentes, a nossa ansiedade por bem estar, por pureza,
autenticidade, intenção e desejo de vivê-la existencialmente,
obedecê-la, aparece comprometida, teórica, obnubilada, na fragilidade
psíquica de meros seres humanos em evolução, que ainda naturalmente
somos e, disso não nos conscientizamos ou nos instrumentalizamos, o que
não nos é fácil lucidamente discernir coletivamente, envoltos como
estamos em meio aos milênios passados e aos do por porvir, uma vez que
"prioritárias razões imperativas do ego, geralmente obnubilado ou
inculto", meras razões atribuídas a superar quaisquer outras razões do
coração, segundo Pascal, que nos tornam obreiros preguiçosos na prática,
produzindo-se essa consciência anômala a pairar num limbo, num estado
de indecisão, incerteza, indefinição em um ser superiormente dotado e
vocacionado a tanto, aspiração grandiosa e sublime, que no entanto
deixa tanto e muito a desejar. Falta-nos valor? Falta-nos valor para
admitir, reconhecer e dar exemplo coerente e testemunho insofismável
de que somos verdadeiramente os únicos seres cósmicos com
potencialidade e capacidade de compreender e sonhar, com dimensões
indescritíveis sobre o nosso dever humanitário, interdependente de
sonhar utopias, semear realidades, de produzir e propiciar unidade,
igualdade e justiça para a consecução da irmandade fraterna universal?
Meus queridos irmãos: qual a nossa inserção positiva, real,
responsável, consciente no contexto contagioso político? Que realmente
significa o poder divino que emana do Povo, organiza-se Pelo Povo e age
para o Povo? Para a redenção de quê ? Onde fica a nossa individual
liderança crítica e exemplo? Isto talvez nos acomplexe pela dimensão
exigida, pela ansiada orientação definitiva que só a EDUCAÇÃO da mente e
do caráter propiciará, complexidade a induzir-nos, fazendo-nos
sorrateiramente driblar princípios, de assumir realidades não tão
aliciantes de nossa conduta, enaltecendo o ego geralmente inculto,
evitando errática, consciente ou inconscientemente, o tremendo desafio
que recai sobre nossos ombros: o de sermos artífices SERVIDORES e não
apenas vítimas indefesas usufruidores das migalhas que caiem da mesa,
mas semeadores em terra ávida e fértil, autores, atores e não meros
usufruidores, espectadores, verdadeiros pedreiros, escultures,
brunidores, construtores da concreção dos ideais e convicções em que
genuinamente cremos: a Obra TRANSCENDENTE do espírito, nascida do QUERER
divino, com a qual sonhamos e a dar razão concreta e testemunho
insofismável aos nossos anseios de bem, nossa aspiração de um correto,
digno, coerente, estimulante DESTINO HUMANO, a grande Obra dos milênios
do GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO.
"Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce"! . . .
(Fernando Pessoa"
(Fernando Pessoa"
E termino com uma breve reflexão poética que intitulei:
T R O G L O D I TA
Será mesmo que regredimos?
Que regressamos à época das cavernas?
Que depois do Progresso pretendido e tantos mimos, não
passamos de meros sustentáculos sobre pernas?
Em que o cérebro não preside,
Apenas assiste, não governa,
Meramente assente, consente ou decide
Onde acaso nos levem instintos à baderna ?
Premeditado, inconsciente ou conveniente acinte ?. . .
Em que ausente coração não aperceba da ética
fundamentos e, dessa dimensão trágica não ressinta?...
Melhor viver na Capadócia,
Ou nas cavernas de tépida temperatura
Grosseira e ingénua da Beócia,
Que exigir digna mente em tanta agrura na cultura ? . . .
E o troglodita ressurge impávido e sereno
Militando direitos, poder, conforto, jamais deveres,
Apresentando-se ainda tosco, ignorante, desumano, ou
obsceno,
ignorando em seu ego o crescimento, cultura, saber,
educação, dever e construtivos afazeres ! . . .
Cabreúva 6/5/2013
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