Oh! Bendito o que semeia
Livros . . . livros à mão cheia . . .
E manda o povo pensar!
O livro caindo n’alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar.
(“O Livro e a América” do bendito e insigne Castro Alves)
Eis uma nova Antologia. A reunião em livro do esforço e trabalho de um grupo de vocacionados praticantes da maravilhosa arte de escrever, bem organizados e constituídos, com a eficiente e estruturada liderança de Sérgio Grigoletto, em um “Clube de Amigos de Letras”. Está de novo de parabéns este consagrado e virtuoso “Clube”, que via WEB, congrega já 3.796 cônscios integrantes inscritos em seu boletim de notícias, e intercambio de idéias.
Felizmente, na inexorabilidade do mundo global, até a arte da literatura se globaliza e desmistifica, tornando-se acessível com o auxílio fantástico da internet e do computador, e, como diz o artista e batalhador pela função literária João Borges, em seu “Ventos Múltiplos” : . . . “
Outro lado positivo, que vemos nesta compulsão literária coletiva, é o aprimoramento público leitor com relação aos verdadeiros e grandes escritores, já que este público está tendo a oportunidade de também saborear do mel que, antes, era coisa de iniciados. Afinal de contas, se até o sofrimento humano está sendo globalizado, quando nos defrontamos com problemas cada vez mais mundiais, por que não desmistificar a literatura, permitindo que seus reais personagens saltem de suas páginas para escreverem suas próprias histórias? Refiro-me ao povo” . . .
Exultemos, congratulemo-nos portanto, com o sucesso desse movimento cultural sem precedentes, que nos enche a todos de esperança, na redenção da essência dos valores implícitos no poema em epígrafe do bendito e insigne Castro Alves, no intercâmbio e na difusão dos meios que aproximam pessoas a as fazem indivíduos a discutir idéias, libertando-as, engrandecendo-as, promovendo-as, estimulando-as à divina e sublime faculdade de melhor pensar, de ver e sentir com argúcia e profundidade, de interpretar, de elaborar opinião, de exercitar inteligência, captando cada vez mais o mundo psíquico e exterior que nos impregna e rodeia, de publicar o produto de seu pensamento, organizado em livro, propiciando e multiplicando oportunidades de amplidão da visão e consciência, despertando enfoques promotores de civilização, enaltecendo a dignidade humana.
O sério e verdadeiro amor pelas LETRAS, que se supõe ou admite ser o leitmotiv de uma agremiação, associação, academia, clube, ateneu ou tertúlia, que congrega seus cultores, incentivadores ou motivadores, não parece dever ser propriamente mais, nem maior, que a própria consciência, respeito e anseio de seus identificados integrantes pelo zelo, testemunho e prática dos nobres postulados, propósitos e ideais, que através desse maravilhoso meio, as letras, constituídas e impressas em livros, revistas, jornais, panfletos, se propõem contribuir com eficiência e idoneidade, à verdade de atitude e ação, mesmo que seja diletantemente, na divulgação, construção e esclarecimento de uma sociedade madura, informada, respeitosa pela essencialidade da vida física, de diálogo e equilíbrio com as pessoas e com a natureza, de relação cultural, de convivência pacífica, espiritual e social , compreensiva, coerente, sensata, congruente, harmônica, sã, honesta, educada, culta, dialogante, desafiante, interdependente, digna, verdadeira, justa. Sociedade ou organização social e política, que cônscia de termos e propósitos, possa vir a definir-se, com aguda propriedade, de democrática. Democracia, essa tão aspirada, tão badalada idéia civil dos gregos e mais recentemente a partir dos iluministas, tida como o ideal cristalino da ansiada verdade igualitária e fraterna dos povos, em que o respeito, a dignidade da conduta e comportamento de seus integrantes, líderes e liderados, eleitos e eleitores, legisladores e magistrados, governantes e governados, com a sã, culta e ordeira consciência de que, é verdadeiramente do seio do povo de onde emana todo o soberano e honesto poder, criando-se o ideal social democrático igualitário dos direitos e deveres, que deve prevalecer sobre o egocentrismo individual do ser cultor do que é nefasto, vil, negativo, empobrecedor, mesmo além, aqui ou ali, da possível carência cultural. Esclarecer cada vez mais e pedagogicamente melhor, nesta nossa querida nação tão carente de cultura e leitura edificante, parece ser essa a vocação, a ênfase, o esforço, o desafio que se exige hoje mais do que nunca, com probidade e urgência, de intelectuais, dos homens de letras, de pensadores, escritores, jornalistas, legítimos cultores, praticantes, do povo consciente, diletantes e formuladores de opinião e valores culturais.
Essas são ponderações oportunas que me sugere o expressivo e amargo comentário, na triste conclusão ou constatação do imortal e consagrado escritor português, ganhador do Premio Nobel de Literatura, José Saramago, em recente e significativa declaração, que nos faz meditar profundamente, ante a superficialidade de conceitos, o comportamento das massas e de seus governos, as constantes manipulações, malabarismos, oportunismos, cinismos, incompatibilidades e práticas deploráveis reinantes no mundo inteiro, aos quais estamos inapelavelmente, como nação e como indivíduos, inseridos, muitas vezes como cândidos apêndices imitadores.
Diz Saramago:
“Se começássemos a dizer claramente que a democracia é uma piada,
um engano, uma fachada, uma falácia e uma mentira,
talvez pudéssemos nos entender melhor.”
Irônico? Real? E se real, catastrófico? A quem cabe corrigir ou ponderar com autoridade moral, sobre essa aparente incongruência, entre conceito e realidade que se vai estratificando no mundo, pela pobreza difundida dos postulados, das propostas, pelas incompatibilidades entre propostas e vivências, das facilidades traiçoeiras, dos oba oba inconsistentes, dos maus exemplos e dos costumes deletéreos?Quem são os governos?Quem preside as escolas ? Quem são os professores ? O que é educação? Que papel joga o amor e a disciplina nesse processo? O que é o povo? Quem é povo? Que nos corresponde dizer, elaborar ou fazer, homens e mulheres de Letras? Amigos verdadeiros de Letras ! ? Para que servem as letras ? Servem a quem? Contemos nossas histórias, sejamos os personagens vívidos de nossas obras, clamemos, digamos, esclareçamos, reclamemos, desmascaremos, protestemos com dignidade e veemência, e sobretudo com autoridade moral, escrevamos pois, como escritores, pensadores e cultores das coisas do espírito, cristalinas verdades e autênticos gritos de alma e inteligência, que nos libertem da indignidade do mal, da insídia, do engano, da sanha, da ambição desmedida, da superficialidade, da confusão de conceitos, dos imediatismos, do cálculo e ego venal, da vergonha, da vaidade supérflua, cuja nefasta saga e semente se projeta mascaradamente no seio da sociedade pela eternidade das gerações. Produzamos alimento formativo. Sejamos escritores construtores. Salvemos e afirmemos as conquistas sagradas da civilização. Construamos inteligências perceptivas, fazendo e publicando Livros, e incentivando a sua leitura indiscriminadamente. Ajudemo-nos, e por que não, ajudemos a humanidade a pensar e a pensar bem, para que a luta contra o analfabetismo cultural, ultrapasse a fase instrumental da mera capacidade potencial do alfabetizado apenas poder ler e impeça a sociedade de nadar em falácias e terríveis tropeços de obscurantismo e ignorância, que destroem os pilares em que se assenta a democracia.
Parece, infelizmente, que apenas vicejam por toda a parte espíritos ególatras, aproveitadores de ambições descabidas quanto desmedidas, que fazem da inocência uma incongruência. Acredito não ser este o mundo das letras, que ora viceja esperançosamente com a edição de mais uma Antologia, embora não possa iludir o pesaroso fato de que muitos e muitos, na sociedade, as usam abusivamente, desvirtuadamente, em seus maus desígnios ou cálculos utilitários.
Admito verdadeiramente que nada é mais construtivo para o estabelecimento de uma ordem moral superior que o humilde sentimento de bondade, gratidão e gentileza. Quem agradece autêntica e reconhecidamente tudo o que se lhe fez, ou se lhe faz, de bom e magnânimo, ou o que fez e faz a natureza criativa e dadivosa, em seus milénios evolutivos, o que se realiza com dedicação, na translúcida expressão cristalina da verdade, respeito e espírito de boa vontade e serviço, quem possa ponderar dificuldades e limitações e mesmo assim vencer a inércia da preguiça e do medo, esse generoso, autêntico e espontâneo sentimento de gratidão e ao mesmo tempo inconformismo, torna a vida profícua, harmoniosa e a faz transcorrer em marcha civilizadora e humanizante e realiza concretamente a possibilidade prática de idéias e ideais tão belos., como o são os da vida democrática testemunhante, compartilhada. É isso que quero fazer agora aos que colaboraram para constituir este novo livro Antologia, que ora se publica sob a égide de tão bem liderado e motivado “Clube de Letras”: Agradecer ! Quero agradecer!
Agradecer, agradecer e agradecer, mas agradecer de verdade, com sinceridade, sem afetações ou salameleques, com propriedade, faz parte dessas básicas cristalinas verdades a despertar boas vontades, autenticidades, que não requerem vaidades indevidas, pelo contrário, as mesmas se repudiam naturalmente, para propiciar moderado orgulho, com legitimidade, o que é próprio e devido à gestação de generosa e inefável egrégora, essa força-pensamento unificante, uma aura de paz e aprovação espiritual coletiva, para que a Democracia, seja possível e venha a ser de fato um sistema ideal de vivência e convivência estimulante, de confiabilidade dialogante, prazeirosa e honrada, um instrumento da inteligência e crescimento humano e não apenas outro cínico e mecânico exercício circunstancial de aproveitadores, produto falacioso e demagógico a serviço do mais esperto oportunista, propagandista de feira, inescrupuloso e empoleirado, a cumprimentar com desenvoltura e desfaçatez a torto e a direito, com chapéu alheio. Eis um tema, senão o tema, crítico, sobre o qual as letras e os que não as conspurcam, manipulam ou maculam, podem, devem e precisam pensar, elaborar, difundir, proclamar, criticar, praticar, para a reconstrução da sociedade e das instituições a serviço da dignidade humana, que é afinal o que busca o sistema democrático e a civilização, a compor coerência e honestidade como apela a frase do insigne Nobel, José Saramago. Oh! Benditos os que semeiam Livros . . . Livros às mãos Cheias ! . . .
Muito e muito obrigado a todos e mãos à obra ciclópica que nos espera e reclama à ação, através da instrumentalidade dignificante, profícua e civilizadora das LETRAS.
Erasmo Figueira Chaves
Presidente da APML
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