O GNOSTICISMO E A MAÇONARIA
Ariel Mariano
Ariel Mariano
Dentre os preceitos adotados pela Maçonaria no Brasil, talvez um de seus mais relevantes, consiste nos chamados “landmarks”, os quais, não obstante serem, não raro, objeto de críticas, notadamente aos pesquisadores mais modernos, são aqui adotados. Embora os referidos sofram variações de acordo com a respectiva potência maçônica, há o consenso na crença de um Ser Supremo, como também na imortalidade.
De fato, na Constituição & Regulamento Geral adotado pela GLESP, no capítulo reservado ao “landmarks”, constam, entre outros, os seguintes:
Décimo Nono – A crença no Grande Arquiteto do Universo é um dos mais importantes landmarks da Ordem. A negação dessa crença é impedimento absoluto e insuperável para a iniciação.
Vigésimo – Subsidiariamente a essa crença, é exigida a crença em uma vida futura.
Identificado o quanto supra, é sabido que quando entrevistamos um eventual candidato visando iniciação em nossos augustos mistérios, procedemos à inquirição se o referido professa alguma fé e também se acredita em uma vida futura. Caso o candidato responda afirmativamente, dependendo de outras argüições, pesquisas etc., pode vir a ser iniciado na Ordem, mas em caso contrário, não.
A rigor, sob tal aspecto, deveríamos nos limitar a perguntar-lhe precisamente isto, por conseguinte, sequer deveríamos argüir ao candidato, qual exatamente é sua crença, pois sua resposta nos bastaria, da mesma forma, relativamente à crença em uma vida futura.
Todavia, quase sempre, não é assim que acontece. Em geral, procuramos identificar qual a sua crendice, sob a alegação de que, quando do juramento em Loja, este vai ter que o realizar sob a égide do respectivo Livro Sagrado.
Na verdade, ficamos mais satisfeitos, quando este professa ser cristão, não obstante aceitarmos que seja filiado a outras religiões, mas cá entre nós, se assim não ocorrer, ficamos uma tanto quanto, diria, em estado de alerta.
Não bastasse isso, na própria iniciação, solicitamos ao candidato que professe sua crença em Deus, como também em certas instruções, sem quaisquer pudores, afirma-se nas referidas que o Grande Arquiteto do Universo é Deus.
Para um melhor observador, tal adoção, é minimamente, paradoxal e mesmo indevida, pois se por um lado, utilizamos, em vários momentos o termo “Grande Arquiteto do Universo”, porque então utilizarmos a expressão Deus, quando nos referimos ao Ser Supremo?
Tal inadequação decorre do insofismável fato, de que, os partícipes da Ordem, no Brasil, em sua grande maioria são cristãos, independentemente se praticantes e assíduos em seus respectivos templos religiosos ou não.
Mais especificamente, boa parte é católica, não obstante aqueles pertencentes ao mundo protestante terem crescido consideravelmente atualmente também em nossas hostes.
Apenas com o fito de sublimar tal desvio temporal, se, por exemplo, um convidado, tivesse como fé, a crença não em Deus, mas em Zeus, a rigor, não haveria nenhum impedimento para ingresso na maçonaria, já que, manteria a identificação de um Ser Supremo e mesmo na vida futura, e neste caso, sob a tutela de Hades que de acordo com a mitologia grega presidia o julgamento da alma e esta se condenada, seria atirada ao Tártaro para e eternidade, onde purgaria seus pecados, mas se absolvida, aos Campos Elíseos, mansão dos bem-aventurados.
Então, temos que assumir que mesmo, inconscientes, a grande maioria, traduz, e entende que quando nos referirmos à divindade maior, que corresponderia ao Grande Arquiteto do Universo, aceitamos apenas que este seja Deus e ponto final.
De fato, o catolicismo adota como principal livro teológico, justamente a Bíblia, sendo esta contida de duas divisões principais, sendo a primeira as chamadas “Escrituras” e a segunda, os “Evangelhos”.
Quanto à primeira, a Igreja Católica, tratou de adaptar à sua conveniência e necessidade teológica, os livros sagrados judaicos, principalmente, o Pentateuco, Torá ou Talmude.
Como se sabe a Torá significa doutrina e particularmente ensinamento religioso. A Torá é a lei para os judeus. É o supremo código penal e religioso representado pelo Pentateuco de Moisés mais os usos e exegeses que produziram o Talmude.
Talmude deriva da raiz “lamod” que significa estudar. Constitui o código do direito judaico, civil e canônico, tendo sido elaborado através de cerca de mil anos de estudo. Compreende o “mishná”, texto fundamental escrito em hebraico e a “guemará” que é seu comentário e interpretação escrita em aramaico. Há o Talmude Jerushalmi (jerosolimitano) e o Talmude Babli (babilônico).
Para os hebreus, o Ser Supremo, denomina-se, na verdade, Elohim ou Iavé, e não obstante, tratar-se do Criador Incriado, escolheu entre todos os povos, como seu dileto, o povo de Israel, ficando, por conseguinte, os demais todos, em certo sentido, legados à sua própria sorte.
Quanto aos Evangelhos, a Igreja adotou há muito tempo, os chamados canônicos, sendo os principais, os evangelhos, “segundo”, Marcos, Mateus, Lucas e João.
De fato, os referidos não foram escritos à época contemporânea de Jesus, mas depois, entre 70 e 150 d.C., razão precípua de se intitularem “segundo”. Sob tal assertiva, defendem muitos que a principio foram transmitidos oralmente, para depois serem coligidos através da escrita e finalmente adaptados às necessidades organizacionais e teológicas da Igreja, enquanto outros defendem, piamente, serem plenamente fiéis aos seus respectivos autores, cujos originais se perderem ao bojo da história. Qual a verdade? Conclusivamente e inapelavelmente, provavelmente, ninguém saberá. Eles existem e ponto final.
Sabemos que os referidos evangelhos, foram adotados pela Igreja, a partir de um Concílio, ocorridos na cidade de Nicéia, pelos idos de 325 d.C., sob a tutela do imperador romano Constantino, que adotou o cristianismo como a religião oficial do império, não obstante ter ele próprio somente se convertido ao catolicismo ao fim de sua existência.
De igual forma, existem outros evangelhos, não reconhecidos pela Igreja, são os chamados apócrifos. Tal expressão vem do grego “apokryphos” que significa oculto. É empregada comumente em relação a uma obra inautêntica, ou falsamente atribuída a determinado autor. Mas em linguagem religiosa, chama-se apócrifo um documento não canônico, isto é, sem respaldo da Igreja, o que não implica necessariamente em sua falsidade.
Na verdade, resulta de certa forma, digamos assim, um conflito entre os chamados Evangelhos Autênticos e aqueles consignados como Apócrifos.
Vamos discorrer adiante sobre os dois grupos, e suas eventuais relações com a Maçonaria.
Primórdios da Era Cristã
De acordo com certa corrente de pesquisadores e estudiosos, Jesus em sua existência terrena, surgiu como um rabino, termo que vem do hebraico rabban, ou rabbi, que significa “nosso mestre”, ou nosso senhor e era tratamento dado a nassi (príncipe) que presidia o grande Sinédrio, o mais alto tribunal judeu na época de Jesus. Correspondia também a todo aquele que reunia certo número de discípulos e era chamado de rab ou rabbi. Ao que parece foram as mulheres que primeiramente intitularam Jesus como rabino.
Depois, Jesus, assumiu como seguidor de João Batista, e como tal um profeta, para finalmente ter-se convencido que era o próprio Messias e em tal particular, que prepararia seu povo para o reino de Deus.
Para consecução de tal mister, uniu-se a determinados companheiros, posteriormente intitulados de apóstolos, parte dos quais tinham sido seguidores de João Batista até sua prisão e morte e outros que diretamente a ele se agregaram, inclusive familiares (homens e mulheres).
É imperativo destacar-se também a boa convivência que Jesus tinha com as mulheres, ao contrário de boa parte. Naquela época, um judeu médio não falava com as mulheres em público, nem sequer as saudava. Jesus sem o menor constrangimento privava com elas, que passaram a constituir o elemento preponderante entre seus seguidores, inclusive Maria Magdalena. Assim não foi à toa que as mulheres lhe acompanharam até o fim, mesmo no calvário.
Quanto aos apóstolos, em sua maioria, eram partidários de uma corrente revolucionária que pretendia a libertação de seu povo do jugo romano, à época, alguns inclusive do segmento mais radical, os chamados zelotas (expressão que vem de zeloso, eram os integrantes do partido nacionalista judaico, revolucionários), dos quais provavelmente Judas Iscariotes (que deriva de isch-Kerioth, que corresponde a homem de Kerioth – uma povoação local).
Por conseguinte, tinham em Jesus, seu Messias-Guerreiro, anunciado nas escrituras através dos Profetas, que libertaria seu povo e assumiria o poder, tendo cada qual, direito ao seu próprio butim.
Jesus, cujo nome original é Yeshua ou Yehoshua que significava Iavé salva e depois na Bíblia helenizada passou para Iésous, em latim Iesu, não obstante em determinado instante ter-se intitulado Messias (que é uma tradução da palavra grega Cristo – Christós, da aramaica “Meschiha” que significa ungido do Senhor), era provavelmente anti-zelota, isto é, pregava, em essência uma vida futura com sucesso, não na Terra, mas nos céus, muito embora, em várias ocasiões, talvez premido pelas circunstâncias, ter prometido aos seus seguidores que sua empreitada seria coroada de êxito, aqui mesmo e em curto prazo.
Talvez, essa mesma ambigüidade de discurso, tenha-o legado à crucificação.
O fato é que depois do fracasso de Jesus pela não tomada do templo de Salomão, no domingo de Ramos (ao menos na visão dos apóstolos e populacho que pensavam que seu Messias, iria agir em favor de seu povo, de forma imediata), seus discípulos o abandonaram. Assim é que Judas Iscariotes o denunciou ao Sinédrio, não por traição ou pelas 30 moedas (que na época consistia num bom montante), mas por nacionalismo, por entender que Jesus se tratava de um impostor e traidor da causa libertária. O tempo mudou esta história, e Judas transformou-se como epíteto de mau-caratismo, vilania e traição.
Jesus foi supliciado, julgado culpado por crime de blasfêmia e insurreição e crucificado no madeiro o que por si só, para os judeus, era considerado como maldito de Deus.
Jesus padeceu e morreu, longe de seus companheiros que haviam fugido seja porque temiam também serem considerados como cúmplices ou porque haviam se decepcionado com seu desempenho terreno.
Consciente ou não, sua agonia final, acabou por se converter em seu maior milagre e dar ensejo no futuro a uma religião dominante, que possivelmente ele próprio nem imaginava ou almejava.
Quanto ao seu sepultamento, não há certezas do que de fato ocorreu, já que os corpos dos criminosos em geral eram jogados em valas comuns e justamente por não terem sido os discípulos de Jesus que o enterraram, as descrições sobre seu túmulo, não combinam e a situação de fato, ficou ignorada para sempre. O tempo e os interesses variados incumbiram-se de modificar e engrandecer tais acontecimentos.
Depois de sua morte, ocorreu uma luta pelo poder sucessório, tanto por parte de sua família, Maria Magdalena e os demais discípulos, que passaram a ter “visões” de sua onipotente presença, ressuscitado.
Se forem verdadeiras tais “visões”, não é relevante, já que ao menos ocorreram na cabeça de seus seguidores, como a purgar seus pecados de o terem abandonado no momento decisivo, ou para dignificar sua importância, como no caso de Maria Magdalena.
Certo é que em um primeiro momento, Tiago, irmão de Jesus, assumiu o grupo, ocorrendo a submissão de Pedro e dos demais discípulos e seguidores.
Parte de grupo manteve-se na localidade, sendo que alguns foram mortos posteriormente, como por exemplo, Tiago, filho de Zebedeu, por ordem de Herodes Agripa I, em 44 d.C., durante a perseguição violenta que o monarca efetuou junto aos judeu-cristãos, da qual Pedro acabou fugindo.
Outros, além de Pedro e João, partiram para outras localidades, indo para as regiões gregas e posteriormente romanas, fundando naquelas plagas o movimento que iria ser consagrado séculos depois.
Os que sobreviveram e permaneceram na região da Palestina, mais especialmente em Jerusalém, os chamados da linha dinástica, continuaram sua pregação local, e adotaram a chamada linha gnóstica, até desaparecerem mais completamente no século IV d.C.
Podemos identificar, conceitualmente, duas divisões entre os seguidores de Jesus, os dinósticos que correspondiam de certa forma a linha sucessória e os apostólicos que divulgaram a nova religião em áreas mais proeminentes da humanidade.
Os Evangelhos Canônicos
De fato, na Constituição & Regulamento Geral adotado pela GLESP, no capítulo reservado ao “landmarks”, constam, entre outros, os seguintes:
Décimo Nono – A crença no Grande Arquiteto do Universo é um dos mais importantes landmarks da Ordem. A negação dessa crença é impedimento absoluto e insuperável para a iniciação.
Vigésimo – Subsidiariamente a essa crença, é exigida a crença em uma vida futura.
Identificado o quanto supra, é sabido que quando entrevistamos um eventual candidato visando iniciação em nossos augustos mistérios, procedemos à inquirição se o referido professa alguma fé e também se acredita em uma vida futura. Caso o candidato responda afirmativamente, dependendo de outras argüições, pesquisas etc., pode vir a ser iniciado na Ordem, mas em caso contrário, não.
A rigor, sob tal aspecto, deveríamos nos limitar a perguntar-lhe precisamente isto, por conseguinte, sequer deveríamos argüir ao candidato, qual exatamente é sua crença, pois sua resposta nos bastaria, da mesma forma, relativamente à crença em uma vida futura.
Todavia, quase sempre, não é assim que acontece. Em geral, procuramos identificar qual a sua crendice, sob a alegação de que, quando do juramento em Loja, este vai ter que o realizar sob a égide do respectivo Livro Sagrado.
Na verdade, ficamos mais satisfeitos, quando este professa ser cristão, não obstante aceitarmos que seja filiado a outras religiões, mas cá entre nós, se assim não ocorrer, ficamos uma tanto quanto, diria, em estado de alerta.
Não bastasse isso, na própria iniciação, solicitamos ao candidato que professe sua crença em Deus, como também em certas instruções, sem quaisquer pudores, afirma-se nas referidas que o Grande Arquiteto do Universo é Deus.
Para um melhor observador, tal adoção, é minimamente, paradoxal e mesmo indevida, pois se por um lado, utilizamos, em vários momentos o termo “Grande Arquiteto do Universo”, porque então utilizarmos a expressão Deus, quando nos referimos ao Ser Supremo?
Tal inadequação decorre do insofismável fato, de que, os partícipes da Ordem, no Brasil, em sua grande maioria são cristãos, independentemente se praticantes e assíduos em seus respectivos templos religiosos ou não.
Mais especificamente, boa parte é católica, não obstante aqueles pertencentes ao mundo protestante terem crescido consideravelmente atualmente também em nossas hostes.
Apenas com o fito de sublimar tal desvio temporal, se, por exemplo, um convidado, tivesse como fé, a crença não em Deus, mas em Zeus, a rigor, não haveria nenhum impedimento para ingresso na maçonaria, já que, manteria a identificação de um Ser Supremo e mesmo na vida futura, e neste caso, sob a tutela de Hades que de acordo com a mitologia grega presidia o julgamento da alma e esta se condenada, seria atirada ao Tártaro para e eternidade, onde purgaria seus pecados, mas se absolvida, aos Campos Elíseos, mansão dos bem-aventurados.
Então, temos que assumir que mesmo, inconscientes, a grande maioria, traduz, e entende que quando nos referirmos à divindade maior, que corresponderia ao Grande Arquiteto do Universo, aceitamos apenas que este seja Deus e ponto final.
De fato, o catolicismo adota como principal livro teológico, justamente a Bíblia, sendo esta contida de duas divisões principais, sendo a primeira as chamadas “Escrituras” e a segunda, os “Evangelhos”.
Quanto à primeira, a Igreja Católica, tratou de adaptar à sua conveniência e necessidade teológica, os livros sagrados judaicos, principalmente, o Pentateuco, Torá ou Talmude.
Como se sabe a Torá significa doutrina e particularmente ensinamento religioso. A Torá é a lei para os judeus. É o supremo código penal e religioso representado pelo Pentateuco de Moisés mais os usos e exegeses que produziram o Talmude.
Talmude deriva da raiz “lamod” que significa estudar. Constitui o código do direito judaico, civil e canônico, tendo sido elaborado através de cerca de mil anos de estudo. Compreende o “mishná”, texto fundamental escrito em hebraico e a “guemará” que é seu comentário e interpretação escrita em aramaico. Há o Talmude Jerushalmi (jerosolimitano) e o Talmude Babli (babilônico).
Para os hebreus, o Ser Supremo, denomina-se, na verdade, Elohim ou Iavé, e não obstante, tratar-se do Criador Incriado, escolheu entre todos os povos, como seu dileto, o povo de Israel, ficando, por conseguinte, os demais todos, em certo sentido, legados à sua própria sorte.
Quanto aos Evangelhos, a Igreja adotou há muito tempo, os chamados canônicos, sendo os principais, os evangelhos, “segundo”, Marcos, Mateus, Lucas e João.
De fato, os referidos não foram escritos à época contemporânea de Jesus, mas depois, entre 70 e 150 d.C., razão precípua de se intitularem “segundo”. Sob tal assertiva, defendem muitos que a principio foram transmitidos oralmente, para depois serem coligidos através da escrita e finalmente adaptados às necessidades organizacionais e teológicas da Igreja, enquanto outros defendem, piamente, serem plenamente fiéis aos seus respectivos autores, cujos originais se perderem ao bojo da história. Qual a verdade? Conclusivamente e inapelavelmente, provavelmente, ninguém saberá. Eles existem e ponto final.
Sabemos que os referidos evangelhos, foram adotados pela Igreja, a partir de um Concílio, ocorridos na cidade de Nicéia, pelos idos de 325 d.C., sob a tutela do imperador romano Constantino, que adotou o cristianismo como a religião oficial do império, não obstante ter ele próprio somente se convertido ao catolicismo ao fim de sua existência.
De igual forma, existem outros evangelhos, não reconhecidos pela Igreja, são os chamados apócrifos. Tal expressão vem do grego “apokryphos” que significa oculto. É empregada comumente em relação a uma obra inautêntica, ou falsamente atribuída a determinado autor. Mas em linguagem religiosa, chama-se apócrifo um documento não canônico, isto é, sem respaldo da Igreja, o que não implica necessariamente em sua falsidade.
Na verdade, resulta de certa forma, digamos assim, um conflito entre os chamados Evangelhos Autênticos e aqueles consignados como Apócrifos.
Vamos discorrer adiante sobre os dois grupos, e suas eventuais relações com a Maçonaria.
Primórdios da Era Cristã
De acordo com certa corrente de pesquisadores e estudiosos, Jesus em sua existência terrena, surgiu como um rabino, termo que vem do hebraico rabban, ou rabbi, que significa “nosso mestre”, ou nosso senhor e era tratamento dado a nassi (príncipe) que presidia o grande Sinédrio, o mais alto tribunal judeu na época de Jesus. Correspondia também a todo aquele que reunia certo número de discípulos e era chamado de rab ou rabbi. Ao que parece foram as mulheres que primeiramente intitularam Jesus como rabino.
Depois, Jesus, assumiu como seguidor de João Batista, e como tal um profeta, para finalmente ter-se convencido que era o próprio Messias e em tal particular, que prepararia seu povo para o reino de Deus.
Para consecução de tal mister, uniu-se a determinados companheiros, posteriormente intitulados de apóstolos, parte dos quais tinham sido seguidores de João Batista até sua prisão e morte e outros que diretamente a ele se agregaram, inclusive familiares (homens e mulheres).
É imperativo destacar-se também a boa convivência que Jesus tinha com as mulheres, ao contrário de boa parte. Naquela época, um judeu médio não falava com as mulheres em público, nem sequer as saudava. Jesus sem o menor constrangimento privava com elas, que passaram a constituir o elemento preponderante entre seus seguidores, inclusive Maria Magdalena. Assim não foi à toa que as mulheres lhe acompanharam até o fim, mesmo no calvário.
Quanto aos apóstolos, em sua maioria, eram partidários de uma corrente revolucionária que pretendia a libertação de seu povo do jugo romano, à época, alguns inclusive do segmento mais radical, os chamados zelotas (expressão que vem de zeloso, eram os integrantes do partido nacionalista judaico, revolucionários), dos quais provavelmente Judas Iscariotes (que deriva de isch-Kerioth, que corresponde a homem de Kerioth – uma povoação local).
Por conseguinte, tinham em Jesus, seu Messias-Guerreiro, anunciado nas escrituras através dos Profetas, que libertaria seu povo e assumiria o poder, tendo cada qual, direito ao seu próprio butim.
Jesus, cujo nome original é Yeshua ou Yehoshua que significava Iavé salva e depois na Bíblia helenizada passou para Iésous, em latim Iesu, não obstante em determinado instante ter-se intitulado Messias (que é uma tradução da palavra grega Cristo – Christós, da aramaica “Meschiha” que significa ungido do Senhor), era provavelmente anti-zelota, isto é, pregava, em essência uma vida futura com sucesso, não na Terra, mas nos céus, muito embora, em várias ocasiões, talvez premido pelas circunstâncias, ter prometido aos seus seguidores que sua empreitada seria coroada de êxito, aqui mesmo e em curto prazo.
Talvez, essa mesma ambigüidade de discurso, tenha-o legado à crucificação.
O fato é que depois do fracasso de Jesus pela não tomada do templo de Salomão, no domingo de Ramos (ao menos na visão dos apóstolos e populacho que pensavam que seu Messias, iria agir em favor de seu povo, de forma imediata), seus discípulos o abandonaram. Assim é que Judas Iscariotes o denunciou ao Sinédrio, não por traição ou pelas 30 moedas (que na época consistia num bom montante), mas por nacionalismo, por entender que Jesus se tratava de um impostor e traidor da causa libertária. O tempo mudou esta história, e Judas transformou-se como epíteto de mau-caratismo, vilania e traição.
Jesus foi supliciado, julgado culpado por crime de blasfêmia e insurreição e crucificado no madeiro o que por si só, para os judeus, era considerado como maldito de Deus.
Jesus padeceu e morreu, longe de seus companheiros que haviam fugido seja porque temiam também serem considerados como cúmplices ou porque haviam se decepcionado com seu desempenho terreno.
Consciente ou não, sua agonia final, acabou por se converter em seu maior milagre e dar ensejo no futuro a uma religião dominante, que possivelmente ele próprio nem imaginava ou almejava.
Quanto ao seu sepultamento, não há certezas do que de fato ocorreu, já que os corpos dos criminosos em geral eram jogados em valas comuns e justamente por não terem sido os discípulos de Jesus que o enterraram, as descrições sobre seu túmulo, não combinam e a situação de fato, ficou ignorada para sempre. O tempo e os interesses variados incumbiram-se de modificar e engrandecer tais acontecimentos.
Depois de sua morte, ocorreu uma luta pelo poder sucessório, tanto por parte de sua família, Maria Magdalena e os demais discípulos, que passaram a ter “visões” de sua onipotente presença, ressuscitado.
Se forem verdadeiras tais “visões”, não é relevante, já que ao menos ocorreram na cabeça de seus seguidores, como a purgar seus pecados de o terem abandonado no momento decisivo, ou para dignificar sua importância, como no caso de Maria Magdalena.
Certo é que em um primeiro momento, Tiago, irmão de Jesus, assumiu o grupo, ocorrendo a submissão de Pedro e dos demais discípulos e seguidores.
Parte de grupo manteve-se na localidade, sendo que alguns foram mortos posteriormente, como por exemplo, Tiago, filho de Zebedeu, por ordem de Herodes Agripa I, em 44 d.C., durante a perseguição violenta que o monarca efetuou junto aos judeu-cristãos, da qual Pedro acabou fugindo.
Outros, além de Pedro e João, partiram para outras localidades, indo para as regiões gregas e posteriormente romanas, fundando naquelas plagas o movimento que iria ser consagrado séculos depois.
Os que sobreviveram e permaneceram na região da Palestina, mais especialmente em Jerusalém, os chamados da linha dinástica, continuaram sua pregação local, e adotaram a chamada linha gnóstica, até desaparecerem mais completamente no século IV d.C.
Podemos identificar, conceitualmente, duas divisões entre os seguidores de Jesus, os dinósticos que correspondiam de certa forma a linha sucessória e os apostólicos que divulgaram a nova religião em áreas mais proeminentes da humanidade.
Os Evangelhos Canônicos
Temos quatro evangelhos, consagrados como “verdadeiros”, pela Igreja Católica que são os seguintes:
a) Segundo Marcos – a Igreja atribuiu esse evangelho, a João Marcos, discípulo de Simão, e surgiu entre 65 e 75 d.C. Marcos era filho de uma mulher chama Maria, em cuja casa em Jerusalém se reunia os judeus cristãos após a morte de Jesus. Inicialmente seguiu Paulo e depois se uniu a Pedro. As informações que transmitiu a um de seus discípulos, que mais tarde as aproveitou para escrever o evangelho, guardaram profundas influencia de Simão-Pedro. Por isso é que nesse evangelho aparecem alusões pejorativas a família de Jesus, resíduo da luta entre os grupos apostólicos e dinásticos.
b) Segundo Mateus – Apareceu posteriormente ao ano de 75 d.C. e segundo a Igreja, foi escrito na Palestina ou Síria, e sua inspiração ocorreu por conta do apóstolo Mateus que era homem instruído e que teria registrado os ensinamentos de Jesus, trabalho do qual resultou por outras mãos o respectivo evangelho.
c) Segundo Lucas – Escrito entre 80 e 85 d.C, e teria sido escrito por São Lucas, médico, nascido em Antioquia, discípulo e seguidor de São Paulo (em hebraico Shaoul, em grego Saulo. Adotou Paulus que em latim significa pequeno, por humildade ou teria tomado como homenagem ao seu amigo pró-consul Sérgio Paulo, ou como outros judeus que teria dois nomes).
d) Segundo João – Produzido no começo do séc. II d.C., e teria sido inspirado, em São João, chamado Evangelista, um dos apóstolos de Jesus e teria sido escrito por São Irineu, discípulo de Policarpo e este de São João, o Evangelista.
Quanto aos três primeiros Evangelhos supracitados, Marcos, Mateus e Lucas, são conhecidos como sinóticos (do grego synoptikos), por apresentarem grandes semelhanças na narrativa. A uma análise e um crivo mais moderno, poderiam inclusive, serem considerados plágios um do outro, não obstante esta não ser a questão mais relevante nesta análise.
Já o de João, apresenta um caráter mais espiritualista das instruções e alegorias atribuíveis ao Nazareno, mas não menos importante.
Seja como for, é notório que os referidos Evangelhos, à medida que foram publicados, de certa forma, atualizaram as doutrinas da Igreja que se formava. Não é à toa que a própria vida de Jesus foi paulatinamente sendo sublimada próxima a Deus, até ser considerado seu filho. Tanto assim que seu próprio nascimento, cujo depoimento mais antigo é o de Paulo, cujas epistolas são aproximadamente 25 anos anteriores ao primeiro evangelho, informa que Jesus era nascido de uma mulher sob a lei, mas que nascera segundo a carne da estirpe do rei Davi. Mas em Mateus e Lucas que são posteriores, é identificado que Jesus nasceu de uma mulher virgem, da mesma forma que se apregoava aos filhos dos faraós no antigo Egito.
Os Evangelhos Apócrifos
Conforme já citamos acima, os Evangelhos Apócrifos, embora existentes, não foram “aceitos”, ou inseridos no chamado “Novo Testamento”, à época, sob a alegação de não serem fidedignos, indevidos ou falsos. Entre outras alegações, por conferir o que classificavam de exageros literários, como por exemplo, alguns que narram à infância do Nazareno que mesmo criança, fizera milagres em demasia.
O que é mister considerar e levar-se em conta, é que de certa forma, proliferaram mesmo inúmeros evangelhos, cada um pretendendo, tornar-se e ser tachado de fiel. Mas talvez e muito provavelmente, a questão central, tenha sido outra, que de fato ocorreu, ou seja, a luta pelo poder entre a corrente dos canônicos e o dos chamados gnósticos.
Na verdade, os gnósticos, derivados daqueles que permaneceram em Jerusalém e região, pregavam, em essência a corrente do conhecimento. Assim é que consideram a fé um atalho errado para chegar a Deus e o único caminho, é o do conhecimento (a palavra grega gnosis corresponde a conhecimento pela via da experiência). Como resultado de tais princípios, o contato com a divindade é um assunto pessoal, direto e intransferível, não necessitando de forma alguma da intermediação de uma casta sacerdotal. Para eles, o principal não é a resposta, mas a pergunta.
De acordo com os gnósticos, deve-se privilegiar a experiência pessoal em detrimento da obediência à autoridade, seja a das Escrituras ou a dos eclesiásticos da vez, que desprezam, sejam eles sacerdotes, bispos ou papas.
Assim, não à toa que os Evangelhos de tal corrente, identificam e postulam tais princípios.
Apenas com o intuito informativo, vamos citar, dentre os mais famosos, o atribuído a Tomé, a seguinte passagem:
Jesus diz: - “Se aqueles que os guiam lhes dizem: - Vejam, o Reino está no céu’, então os pássaros do céu os precederão. Se lhes dizem: Está no mar, então os peixes os precederão. Antes, o Reino está dentro de vocês, e está fora de vocês. Quando vocês chegarem a conhecer-se, então se tornarão conhecidos, e compreenderão que são vocês os filhos do Pai Vivo”.
Há claramente um antagonismo contundente entre a corrente que defendia uma relação pessoal, busca e desenvolvimento entre o ser e Deus, e aqueles que pregavam uma Igreja organizada, ortodoxa e taxativa, e assim é que prevaleceu a segunda.
Todavia, cumpre citar tanto os evangelhos apócrifos quanto canônicos, datam da mesma época histórica, pois não obstante para últimos alegar-se que foram escritos nos séculos I e II, o que restou deles são cópias do século IV. Da mesma forma em relação aos primeiros, cujas cópias são do século IV, recentemente chegaram ao conhecimento público da era contemporânea.
Evolução da Cristandade
Se nos primórdios da era cristã a convivência entre os canônicos e os gnósticos, presumivelmente, tenha sido pacífica e mesmo tolerável, à medida da passagem do tempo, tornou-se insuportável para as partes, notadamente a partir da segunda metade do século II, e principalmente a partir do Concilio de Nicéia em 325 d.C., quando houve acirrada disputa e recrudescendo, dramaticamente, em 379 quando o imperador romano Teodósio decreta o cristianismo a religião oficial do império e persegue os dissidentes, proibindo-lhes o culto e confiscando-lhes as propriedades.
Apesar da predominância do grupo dos católicos, e massacres incorridos em várias partes do mundo, por conta da “obra de Deus”, os dissidentes, intitulados de heréticos, ainda assim sobreviveram por algum tempo.
Todavia a partir do milênio seguinte, foram cada vez mais segregados e perseguidos, destacando-se para tanto o que na história intitulou-se o genocídio dos cátaros que durou de 1209 a 1255, e foi fomentada pela fúria papal.
Tanto assim que a primeira cidade sitiada, Béziers, foi tomada em um dia, e os atacantes não aceitaram a rendição; a instrução era matar tudo que se mexesse e reduzir as casas às cinzas. Quando um dos cruzados perguntou como faria para distinguir os hereges dos devotos, ouviu de um de seus comandantes a célebre frase: - “Mate todos, o Senhor saberá reconhecer quem são os seus”. (calcula-se que mais de sete mil pessoas foram assassinadas num só dia).
Ao final, muita gente pereceu em nome de um dogmatismo religioso, e os tais evangelhos heréticos, não canônicos ou apócrifos, foram queimados e assim a historia perdeu daquela época ao milênio seguinte, preciosos documentos históricos.
Por aquele tempo, pensava-se que a corrente canônico-católica, iria prevalecer para sempre e nunca mais, haveria chances para ressurgimento de outra forma de pensar em tal dogmatismo religioso.
Foi somente, a partir de alguns achados arqueológicos, na primeira metade do século XX, no Egito e região, é que tais evangelhos “ressuscitaram”, dos quais o sítio arqueológico mais importante foi descoberto em 1945, quando um beduíno encontrou, ao norte de Luxor, o que mais tarde se chamou de Biblioteca de Nag Hammadi (não confundir com os manuscritos do Mar Morto, descoberto em 1947, que trata da seita dos essênios).
Pois, justamente, os manuscritos da Biblioteca de Nag Hammadi, continham os evangelhos, principalmente da linha gnóstica, sendo o mais famoso o atribuído a Tomé, não obstante existirem outros e que datam da mesma época daqueles conceituados canônicos.
Novos Ventos do Pensamento Ocidental
Não foram apenas os evangelhos apócrifos que divergem da corrente canônica e mesmo muito antes de sua redescoberta, vários e talentosos pensadores do mundo ocidental, ousaram divergir do pensamento dominante. Gente do calibre de Giordano Bruno, Pico della Mirandola, Rousseau, Descartes, Spinoza, Kant entre tantos outros, entenderam que a concepção judaico-cristã, era hermética demais, e mesmo ultrapassada.
Outros e importantes pensadores, também divergem da dominação cristão-católica, quanto à concepção da divindade mor. A humanidade, ainda hoje, de forma continua e reiterada, continua refém do desmando por tiranos e asseclas no poder que conspurcam, denigrem e pela ignomínia e infâmia aterrorizam, dominam e massacram a todos quanto podem, em escala mundial, em patamares nunca dantes visto.
Como bem ponderou Hans Jonas (1903-1993, cujos familiares foram vítimas do nazismo), - “monstruosidades como as que aconteceram em Auschwitz, não podem ser explicadas pelos argumentos tradicionais, e nenhuma teodicéia, ou tratado sobre a bondade de Deus, conseguiria justificar tais abominações, por mais piruetas intelectuais que se empreenda”.
Assim é como bem aborda Maria Fiorillo em sua magnífica obra “O Deus Exilado”, - “Se o mundo foi criação divina, há muito deixou de ser. Ou Deus não era feito só de bondade, ou não participou do último ato da criação e assim, caso se queira restaurar sua presença, é preciso redefinir seu papel. Seria inimaginável que, em sua onipotência e onisciência, e, sobretudo, onipresença, sancionasse tantas atrocidades”.
O Gnosticismo e a Ordem
Pois se é nos identificado que nós maçons, buscamos incessantemente e sem quaisquer tréguas a “Gnose”, quer nos parecer que os princípios gnósticos aludidos nos itens supracitados, acham-se estreitamente interligados e podemos com sabedoria, estudos e consciência individual, encontrarmos uma bela simbologia e simbiose.
Aqueles que apregoam que a maçonaria não é uma entidade religiosa e como tal, não deve imiscuir-se em tais assuntos, deve-se ponderar que não se trata de considerar tal simbiose em convertimento ou mesmo transformação de princípios religiosos, mas o de se permitir ao avanço nos estudos de tão apaixonante e imprescindível filosofia.
Afinal, se nos libertamos de certos anacronismos religiosos, como, por exemplo, do principio da criação, identificada em Gênesis, há mais de cem anos desmistificada pela moderna ciência, se Jesus fez este ou aquele milagre, se foi ressuscitado ou não, possamos concluir com insofismável certeza, que tais aspectos, embora inebriantes, não são imprescindíveis, mas que o principal, a essência, o ponto final, reside na “palavra” e esta apregoa que devemos ser bons, justos, tolerantes, amarmos ao próximo, amantes da liberdade e respeitadores com as idéias de outrem, enfim civilizados.
Talvez com tais princípios e assertivas se adotadas não por alguns, mas por todos, possa a humanidade enfim avançar para postos mais proeminentes e edificantes de nossa civilização e daí concluirmos ser este o maior e mais formidável milagre entre tantos aqueles imaginados pelos seres vivos ou mortos deste e combalido belo planeta.
(ao Messias, não o de Nazaré, mas ao dos cantinhos das boas terras mineiras, um irmão fraternal inigualável, que descanse em paz e um até lá!)
BIBLIOGRAFIA
Obras consultadas, inclusive com transcrições literais, em títulos originais:
The Passion of the Wester Mind – Richard Tarnas
Apócrifos – Os Proscritos Da Bíblia – Maria Helena de Oliveira Tricca (compilação)
The Book OF Enoqueh I Enoqueh – R.H. Charles
A Bíblia – Edições Loyola – vários tradutores e vários autores de introduções – edição de 1983
Judas, Traidor ou Traído? – Danillo Nunes
O Deus Exilado – Breve História De Uma Heresia – Marília Pacheco Fiorillo
Constituição & Regulamento Geral da Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo – edição julho de 2005
Antiqités Juives; Les Guerras Des Juifs (versão francesa) – Flavius Josephus
História da Mitologia – Abril – vários autores – edição 1973
Gnosis, the Nature and History of Gnosticism – Kurt Rudolph
Encyclopaedia Britannica – London – 1967
Grande Encyclopaedia Larousse – 1988
Le Probleme De Jèsus – Jean Guitton
Demonstratio Evangelica – Eusebius (de Cesaréia)
Freemasonry –Symbols, Secrets, Significance – W. Kirk MacNulty
Glimpses of Masonic History – C. W. Leadbeater
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