Erasmo Figueira Chaves
Em toda a
organização e na formação de qualquer organismo ou instituição há sempre alguém
ou algum grupo liderando uma ideia, um plano, um objetivo, um ideal. No nosso
caso não foi diferente. Eis como nasceu e cresceu a Loja LUZ DE LUXOR 531.
Loja Empresa
Um dia ouço alguém
falar de um palestrante maçônico que iria pronunciar palestra sobre o título “A
Loja Empresa”. Era tema assaz incomúm dentro da maçonaria, quase um sacrilégio.
Para lá me dirigi. Estava curioso para saber que tipo de “transações ou
mercadorias” se iria poder realizar ou vender numa Loja-Empresa Maçônica.
Seriam livros? Isso até já se fazia em Loja que não precisava de tal definição
para fazê-lo, com a maior tranquilidade. Talvez bibelots, simbólicas medalhas,
emblemas decorativos ou evocativos da nossa ordem?
Qual era o
“negóciozinho” que se iria propor? Que tipo de empório ou “negócio” seria essa
tal LOJA EMPRESA? Um cooperativismo no âmbito Internacional da Exportação
–Importação vinculando contactos e áreas de serviço afins? Sei lá o que mais
passou pela minha cabeça ávida de entendimento e crítico afán.
Era o Irmão Luis
Grieco o autor da palestra. Lá fui ouvi-lo no que mais me teria parecido a
priori uma exdrúxula proposição. E lá o vou ouvindo pacientemente, no que no
imediato começo, me sugeria ser em princípio um certo atrevimento e ligeireza
de colocação ou catalogação, ou em linguagem mais corrente e vulgar,
caradurismo simplório mesmo, puro e simples, embora abertamente inocente, leal,
franco, objetivo, mas inevitávelmente portanto para o bom crítico, ou no caso
para o superficial, imediatista ou mau crítico, insuportável, só tolerável
evidentemente pelo humor, a arquitetação, a simpatia, o sorriso do palestrante
e obviamente pelo espírito maçónico que dora ou minora os exagêros no âmbito da
fraternidade e no esforço da compreensão.
E graças a este
espírito, e à bonomia do Irmão Grieco, expositor, vou, como ouvinte, pouco a
pouco, corrigindo meus próprios conceitos e erros interpretativos.
Vou envergonhando-me
intimamente e a contra-gosto pelo pecadilho da dúvida e suspicácia, ou menos
criteriosa atenção inicial, e atento vou ouvindo-o com o maior interêsse e
percebendo então devagarinho o que o homem do “marketing maçónico” vai nos
vendendo ou tentando vender. Sim, ele está vendendo! Vai vendendo-nos com seu
verbo empolgado, às vezes meio exdrúxulamente enrolado, mas convicto, não
mercadoria, mas uma ideia.
É belo, esse mercado
das ideias. O Grieco afinal estava nos vendendo sim uma idéia, com a melhor e
mais moderna técnica de marketing, a idéia da Loja-Empresa moderna, de que
tanto a nossa maçonaria precisa, como precisa qualquer empreendimento social ou
corporação.
Modernizar
estruturas, atualizar conceitos, administrações, sistemas, organização,
viabilizar o óbvio que é o mais difícil, tornar a maçonaria mais ágil,
realista, prática, transparente, sem temores irracionais a enquadramentos
modernizantes e atuais, sem prejuízo à beleza do profundo simbolismo de nossas
tradições históricas e lições magistrais, mais apta a atrair pessoas e vocações
de bem de extremo valor, tantas vezes alheios, que com perfeita convicção de
liberdade e bons costumes, não se sentiriam entretanto atraídos aos moldes mais
rígidos, os tradicionais conhecidos.
Há sempre lugar para
todos na seara do Senhor! O Arquiteto do Universo! Eu já estava meio
convencido, assim como os demais circunstantes. A linguagem de marketing, é
contagiante. A venda estava sendo feita, ao mesmo tempo que a outra “venda” era
retirada de meus olhos, por convincente vendedor. Faltava agora só pagar para
ver como iria funcionar. Pagámos, pagámos bem, jubilosamente! Pagámos e estamos
vendo!
Estamos vendo, três
anos depois, um critico ouvinte transformado em entusiasta propagador de uma
bela e generosa ideia: uma Loja querida que ajudei a formar e a fundar,
oferecendo a minha biblioteca para uma das primeiras reunioes organizativas, em Cabreuva. A Loja
Luz de Luxor, 531 , hoje com 62 membros, entre eles atuantes destacados Irmãos
da magistratura, da vida dinâmica publica, universitária e empresarial de São
Paulo, felizes de participar de uma instituição que afinal lhes trouxe a oportunidade
de junto a outros e em espírito fraterno trabalhar em benefício da comunidade e
da irmandade.
O rito de Emulação
foi instrumento, o veículo que nos permitiu tornar realidade o “pacote de
ideias” que o Irmão Grieco, entusiástica e avassaladoramente, como verdadeiro
"mascate" da convicção e da ação nos vendeu tão bem vendido e foi por
nós tão gratamente bem comprado. Inicialmente nos reunimos, um pequeno grupo,
em minha casa, na “Casa do Caí” extensão da irmandade da Loja e “Centro de Lazer“
e reuniões tão significativas e gratificantes da mesma. A essa primeira reunião
na biblioteca da “Casa do Caí” estiveram presentes: O Irmão Aldemir de Morais,
hoje nosso Venerável Mestre, O Adilson Cordeiro, O Luís Grieco, nosso Capelão,
atualmente delegado e coordenador dos delegados da administração do Grão Mestre
Pedro Luiz Ricardo Gagliardi, hoje também afiliado, em 2ª afiliação à nossa
Loja, e o que vos fala, já hoje Past-Master imediato, Erasmo Figueira Chaves.
Uma fartura generosa
de cargos e títulos, produto do trabalho, identificação, dedicação e
fraternidade tão comum em nossas lojas. Logo em uma segunda reunião no
escritório do Irmão Morais, firmou-se a ata com os sócios fundadores iniciais :
Grieco, Erasmo, Morais, Cordeiro, Fábio Ogawa, Tom, a que posteriormente se
agregaram os Irmãos Zovico, Cabral, Ivo, Ubirajara e outros.
Este grupo trabalhou
entusiasticamente unido, pra valer, sempre sob a batuta do Irmão Grieco, que às
vezes tinha que ser refreado no seu entusiasmo, extrapolação, sentido prático
ou afán de realizar, pois para ele nada era impedimento, se racional ou
próprio, em prol da maçonaria. Para ser breve, o grupo expandiu os limites
iniciais e ao final do ano passado em que pela condescendência dos irmãos fui
encarregado do Veneralato da Loja, funda-se a Associação Brasileira Luz de
Luxor, compra-se uma séde com aproximadamente 100 m2 cujos estatutos
oficialmente aprovados regem a Instituição e através da qual esta Loja Luz de
Luxor 531 espera realizar proficuamente sua futura ação de benemerência e ajuda
à comunidade carente de São Paulo.
A Missão da Loja
Em nossos manuais de
treinamento e preleção, fazemos alarde em ensinar insistentemente ao aprendiz
que a resposta certa à profana pergunta: o que é um Maçon? É a que tão bem nos
define, quando individualmente comungando verdadeira esperança e vontade
definida de que assim o possamos moralmente definir ao proceder coerente e
disciplinadamente, ante a integridade de nossa meditação e julgamento intimo e
o corajoso e prudente testemunho de nossa ação, nos permitamos conscientemente,
leal e legitimamente responder: um maçon é um ser livre e de bons costumes!
Dito assim parece
que um atributo ou virtude está necessáriamente atrelado ao outro. E se
pensarmos bem assim é efetivamente. Pode alguém ser verdadeiramente livre
enrolando diletantemente ou manipulando rudimentarmente conceitos sem lucidez e
cristalinidade, estrategicamente colocando-se sempre na melhor, profana,
confortável, e tática posição em “cima do muro”, se estiver prisioneiro, de
maus hábitos, maus costumes, ignorância, tacanhês, preconceitos, deslealdade,
egoísmo, ambição desmedida, navegando em várias águas ao mesmo tempo na
conivência com uma visão destorcida da realidade de seus aspirados ideais,
fechando olhos à verdade cristalina e transcendente dos fatos e fazendo ouvidos
mocos aos apelos de justiça da sua consciência e às demandas da sociedade?
A Missão da Loja Luz
de Luxor, 531 é portanto esforçar-se em propiciar todas as oportunidades
edificantes possíveis e viáveis para conscientizar altruística e
idealísticamente todos os seus integrantes, para que todos se conscientizem da
verdadeira responsabilidade que nos cabe como seres humanos a aperfeiçoar-nos
pessoalmente como tais, a apercebermo-nos com humildade de nossas imperfeições e
fraquezas, a pesquisar em nosso interior, melhorando-nos como pessoas,
despertando lideranças latentes ou adormecidas, predispostas a pensar formas
factíveis de ajudar a sociedade e o ambiente tão descuidado e maltratado no
mundo caótico em que vivemos, deixando ou abandonando esse mundo caricato das
fantasias, das vaidades descabidas, das ambições desmedidas, das paixões
irracionais incontroláveis, das pretensões incabíveis, da ignorância, da
incultura, da indignidade, do ódio e do egocentrismo ensoberbado, em suma: do
inrustido primitivo ser que permanece atávica, latente e silencioso, todavia
totalmente presente numa humanidade evolutiva multi-milenária, mas ainda
inconsciente de seu destino e imperfeita por ilucidez, na forma e na ação de
tentar desvendá-lo e alcançá-lo.
Para facilitar o
entendimento do que estou tentanto expressar acerca da liberdade e da
escravidão dos costumes ou preconceitos, nada melhor que descrever em breves
palavras esta pequena mas exemplar história tirada das paginas da realidade:
Bernard Palissy, o
conhecido ceramista, foi, ao tempo de Henrique III, posto na cadeia, preso por
questões de fé religiosa. O rei desejava ardentemente libertar o súdito, a quem
admirava e respeitava, pois era o único capaz em sua contemporaneidade de lhe
fabricar esculturas e estatuetas de enorme valor artístico. Esculturas tão
expressivas do amor, da alma e dedicação com que nelas imprimia virtudes e
vivências ao esculpi-las. Como todas as ameaças e todas as promessas não
produzissem qualquer efeito, o rei compareceu em pessoa à cela do condenado à
morte e pediu-lhe que abjurasse:
- Se não o fizerdes,
ajuntou o rei, ver-me-ei forçado a vos condenar à morte.
- Senhor, diz
Palissy com dignidade, é ao rei de França que ouço dizer: Eu serei forçado? Não
sou mais do que um pobre oleiro, um dos menores súditos de Vossa Magestade, mas
autoridade alguma no mundo poderá forçar-me a agir contra minha consciência.
Vós sois dos mais poderosos senhores de terra e vós dizeis: Serei forçado!
Senhor, qual de nós dois é livre? . . .
Eis pois a missão da
Loja Luz de Luxor, 531: Propiciar entre os seus membros a consciência ou
conscientização dos valores eternos edificantes do espírito livre da verdade,da
imparcialidade, da justiça, da equânimidade, da bondade, da dignidade, do Amor
e da ação exemplar, valorosa e nobre. E da coragem e sabedoria necessária para
vivênciá-los proficuamente na sociedade e na vida diária.
A Loja Luz de Luxor,
531, que nos preenche de júbilo e motiva a todos os Irmãos fundadores e atuais
integrantes, e também a todos que acompanham irmanadamente nossa trajetória em
particular, procura realizar na plenitude da missão catalisadora que é a Obra
maçônica e portanto da maçonaria, espargindo em seu seio essa Luz entre todos
os seus membros e fora dela, através da ação pessoal valiosa de cada um. Que
essa Luz que inspirou o expressivo nome à própria Loja “Luz de Luxor” e que
brota constante e cristalinamente desde a época do Templo do Alto Nilo,
dissipando e esclarecendo mistérios, discórdias, pretensoes, limitações e
ignorâncias, difundindo espiritualidade e aspiraçoes há 5.000 anos, faça
incidir seus raios de sabedoria sobre todos os IIir: e com toda a plenitude
sobre toda Ordem Maçónica.
Luz de Luxor, 531,
cuja primeiro vocábulo é Luz, palavra que é expressão e referência tão
importante do sistema maçónico, transmitindo um sentido bem mais longínquo e
oculto do que geralmente pensamos, que é de fato o primeiro de todos os
símbolos apresentados ao Neófito quando “recebe a Luz” em sua iniciação e, que
nos faz datar nossos documentos pelos anos da Verdadeira Luz, desde tempos
imemoriais, numa significativa simbologia de que o espírito de Sabedoria,
começou com o mundo e sua criação.
“Luz, mais Luz !”
suplicou Goethe ao morrer. Nos sonhos, visões, simbolismo, buscas espirituais e
religiões, a Luz sempre surge associada à ideia de evolução espiritual e
aparição de seres altamente evoluídos. Para o maçon, “receber a Luz” é
iniciar-se na Regeneração, no caminho da autoperfeição. Que essa inefável Luz
continue a iluminar-nos e a proteger-nos sob a égide do Grande Arquiteto do
Universo.
Falta agora uma
importante etapa em que se empenha a nossa Loja: A construção ou compra de um
local ou sede para um Templo condigno próprio. Essa a etapa decisiva em que o
nosso Venerável Mestre, Aldemir Morais, com tanto carinho e empenho espera
realizar com a cooperação entusiástica de todos os Irmãos... E isto não parece
tarefa tão difícil: basta que cada Irmão da Loja proponha um novo Irmão.
Que o Grande
Arquiteto do Universo, continue derramando suas bênçãos sobre a Loja Luz de
Luxor 531, e sobre cada um dos seus membros em particular, como o tem feito tão
pródiga e generosamente até aqui.
O artigo foi publicado na revista "A Verdade"
de Junho/Julho de 1999.
Erasmo Figueira
Chaves
Past Master Imediato
Da Loja Luz de
Luxor, 531
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