JOSÉ SLINGER
(PONTIFICIA UNVERSIDADE
CATOLICA) EM 1957
Esta cerimônia
solene, cheia de afeto e devoção, consagradora de um período de esforço e tenacidade, transforma-se n’uma
comemoração, cujo significado é a um tempo LEMBRANÇA e ADMIRAÇÃO, HOMENAGEM E
RECONHECIMENTO, EXALTAÇÃO E APOTEOSE.
LEMBRANÇA
Porque neste momento
evocamos 5 anos amplamente vividos e sofridos, mas plenamente compensados.
Evocamos com saudade os dias alegres e
felizes de nossa vivência acadêmica, do início de nossa camaradagem, do convívio
agradável, quando pudemos assistir a formação moral e a afirmação da
personalidade dos queridos colegas, que trazendo no fundo dos olhos a chama do
ideal sagrado e nos braços a fibra do esforço viril, sempre procuraram na
cultura os caminhos que a cultura nos pode oferecer, trabalhando e estudando,
contribuindo e usufruindo, num processo que é o próprio processo da evolução do
pensamento humano.
HOMENAGEM
Exmo. Sr. Dr. Juiz de
Direito MANOEL AUGUSTO VIEIRA NETO, DIGNISSIMO PARANINFO DE NOSSA TURMA,
suas lições projetaram sobre nossos espíritos,
como aquela do poeta, nos trouxe alento e esperança, nos proporcionou toda a
vibração de sua cultura privilegiada. É realmente admirável a influencia que V.Excia.
produziu na formação dos alunos, pois em pouco tempo, pelo seu valor
apossou-se de nossas mentes e pela dedicação, veio morar em nossos corações. Na
multiforme manifestação de sua vida extraordinária, V.Excia. como verdadeiro
prodígio, passou da literatura ao Direito, da Magistratura à Cátedra, revelando
sempre a proteiforme galhardia de sua inteligência. Sua escolha para paraninfo de nossa turma atesta uma finalidade mais alta e fecunda,
que é aquela de perpetuar o mestre inigualável, o amigo, para que vele sobre
nossas tradições de acadêmicos e nossas glorias de advogado.
RECONHECIMENTO
Exmo. Sr. Professor DALMO BELFOR DE MATOS, a sua
escolha para PATRONO dos bacharelandos de 1957, vem demonstrar que os
estudantes sabem reconhecer e tributar
os devidos méritos a quem de fato merece. A modéstia voluntaria a que V.Excia. se submete, não nos impediu de encontrar e reverenciar o Mestre de Direito Internacional, que pela
dimensão de sua cultura, nos desvendava todos os mistérios da matéria. Se isso
não bastasse vossa eloquência sabia, elevada, modesta e majestosa, conseguida
no grande livro do saber humano, nos comoveu
e exaltou. Sua vocação para o
magistério, iluminado por uma grande chama interior, permitia numa rara
simplicidade de linhas, uma grandiosidade do desenho. Procurou em cada
manifestação de sua inteligência urdir com fio de outro a trama do pensamento
cientifico, tudo sem vaidade, sem pretensões, a não ser desempenhar o sagrado
mister de sua elevada cátedra. Por tudo isso, receba o nosso reconhecimento.
EXALTAÇÃO
Nesta noite, necessário
se torna exaltar uma obra grandiosa, não
só em nome dos que aqui passaram e fruíram seus beneficio, mas também em nome
daqueles que continuam a receber seus melhores frutos, e com certeza estarão
ligados a esta obra idealista e maravilhosa que
é a nossa FACULDADE PAULISTA DE DIREITO. .Exmo. Sr.
Professor Dr. AGOSTINHO DAS NEVES ARRUDA ALVIM, Digníssimo Diretor, saudamos em
V.Excia. todo o corpo docente de nossa querida Faculdade, esta obra de
idealismo e de gênio, que abarca as fronteiras da ciência, todas as distancias
do saber, e que foi por V.Excia.
laborada, dia após dia, com virtude e abnegação
de um verdadeiro apóstolo, torna
nossa exaltação tanto mais aumentada, quanto é difícil encontrar na
desorganização espiritual de nossa época, forças que se mantenham integras na fé
e constantes na criação.
OS ACADEMICOS
É lição do estimado
Mestre Padre Godinho, que a nossa Faculdade é filha dileta da PUC de São Paulo,
e como tal desenvolve o sentimento do bom e do justo, devendo os estudantes
despertar em suas mentes que são parte do povo
e por isso mesmo devem preparar-se para a vida.
Esses princípios
foram por nós assimilados, e nos proporcionou
uma larga visão da vida e do
mundo. Temperados nas lutas enquanto estudantes, nós acadêmicos possuímos uma
tradição de glorias imorredouras. Encontramos em nossos anais paginas de ouro,
exemplo disso foi o movimento pela libertação dos escravos.
Independente dos
motivos econômicos que precipitaram a libertação, os estudantes, irmanados com
o povo, não podiam compreender a duração por mais tempo, de uma instituição já
por si obsoleta, porque contraria a lei de Deus.
Outra pagina de raro
heroísmo foi escrita em 1932. Os anos passaram céleres, os cabelos negros dos
moços de 32 já começam a embranquecer, mas
ninguém esquece a jornada que colocou
a nação inteira em alerta e na qual foram postas a prova a coragem e a abnegação de um povo. Com o advento da ditadura que
veio usurpar a regime constitucional do
pais, São Paulo foi a região mais visada. Os ditadores não ignoravam
que para levar avante um regime estranho aos sentimentos brasileiros, precisavam antes de tudo,
humilhar e abater de vez o orgulho da estirpe paulista, desencadeando uma serie
das mais desenfreadas violências.
Mas, em 9 de Julho de
1932, todo o gênio e poderio de uma raça tantas vezes heroica, revelaram-se.
Troaram as metralhas pelas campinas férteis
e verdejantes, o sossego bucólico
das fazendas cedeu lugar ao
tumulto da batalha. E l estavam os acadêmicos,
na vanguarda, vertendo generosamente o seu sangue em defesa de um regime de legalidade.
Hoje como ontem, a
mocidade acadêmica continua sua luta contra qualquer forma de opressão, o custo
de vida em permanente elevação coloca em cheque qualquer aumento de salário.
Constrangidos,
assistimos os nossos trabalhadores do campo
lutarem por um pedaço de terra. É lamentável o quadro dos grandes
latifundiários expulsando os camponeses de suas terras, e o eco da chacina no
norte do Paraná ainda se faz ouvir, reclamando uma atuação enérgicas das
autoridades.
Continuamos lutando
em defesa dos princípios democráticos, não as de fachada, mas aquela que no dizer de Karl Schmidt dignifica o homem, fornecendo todas as garantias de liberdade. O Estado não é um fim em si
mesmo, mas o meio para o homem realizar sua felicidade. O fim do estão é o bem
comum.
O direito não é uma
pura teoria, mas uma força viva, por isso a
Justiça segura em uma das mãos a balança em que pesa o direito, e na outra a espada de que se serve para
defendê-lo. A espada sem a balança é a força brutal, a balança sem a
espada é a impotência do direito.
Hoje ao recebermos
nosso laurel, ponto final de um período auspicioso de nossas vidas, quando tudo
são festa e alegria, quando o orgulho de
nossos pais se confunde com a satisfação de nossas noivas ou esposas, quando os
abraços dos amigos nos comove e envaidece, necessário se torna dar uma
resposta, a um tormentoso problema, que tem ao mesmo tempo um conteúdo psicológico
e ético:
QUAL O VALOR MORAL E
SOCIAL DE NOSSA PROFISSÃO.
O advogado que cientemente
sustenta a iniquidade se faz cúmplice moralmente mais culpado, porque não tem
ele, como o cliente, a atenuante da paixão que o arrasta, mas tem ao invés, nas luzes e nas obrigações de seu mister,
freios maiores para domina-la. Entretanto esses princípios não se aplicam às causas penais, onde mesmo
aquele que o advogado saiba culpado, não somente pode mas deve por ele ser
defendido . No juramento imposto pela Lei de Genebra se inscreveu: “não aconselhar ou sustentar causas que não
sejam justas, a não ser que se trate da defesa de um acusado”
Podemos pois concluir
com Zanardelli que “a defesa de um
acusado não só é legítima, como obrigatória, porque a humanidade o ordena, a
piedade o exige, o costume o comporta e
a lei o impõe “
Não se nega que o
advogado tem liberdade de recusa, ele é como o cirurgião. este pode, quando não
obrigado por urgência, recusar uma operação, mas se o aceitar, tem ele o dever
de salvar o mais torpe dos homens, operando e curando suas feridas e se sentirá
exaltado no seu mister, se naquele desgraçado ele vir a humanidade que sofre.
Assim também o advogado existe causas repugnantes que ele pode se eximir de defender, mas aceita a defesa, deve
conhecer somente um dever, favorecer os interesses processuais de seu
defendido, inobstante tudo isso, a profissão de advogado é circundada por um
sentimento de admiração, mas com um véu de desestima. Reconhecem que ela é a expressão de uma cultura e de uma
acuidade e agilidade intelectual.
Somente quem não
conhece as tremendas ansiedades de um processo, que ás vezes é uma rede de aparência
enganosa, que sufoca uma pessoa, pode não considerar o valor social e moral
desta profissão. A fatalidade e a perversidade criam às vezes coincidências tão
terríveis, aparências de provas tão arrasadoras, que sem um defensor digno e
competente, pode ser esmagado um inocente..
É nos debates,
trabalho de dar alma a inerte matéria processual, que o advogado se completa
magnificamente, e a sua palavra leva uma grande ansiedade ao espírito do
julgador, quando não o tranquiliza na certeza de uma inocência. São esses
processos que requerem a paixão ardente de um apóstolo, o zelo cheio de
ansiedade de quem sente as angústias de um suspeitado e o desespero de sua família
dentro do seu coração.
Felicidade a todos.
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