01 – Histórico
É de amplo conhecimento de nossa irmandade que a Maçonaria em seus primórdios, era operativa, tornando-se especulativa em meados do século XVIII.
Muito embora a operativa fosse composta de artesãos e, portanto, restritiva a certa casta, seus componentes, presumivelmente, eram pessoas que não pertenciam à sociedade dominante e que, por conseguinte, sobreviviam com significativas dificuldades em um mundo dominado pelas trevas.
Todavia à medida que os chamados “especulativos” passaram a integrá-la e subsequentemente ao domínio da referida instituição, seu corpo sofreu profundas transformações.
Não somente a aristocracia ou nobreza, para a qual segundo vários historiadores foram criados os chamados graus superiores, mas também e, mui certamente, personalidades ilustres, revolucionários, livre-pensadores que almejavam um novo status quo para o que concebiam ser a aurora da humanidade. Propugnavam por um mundo dominado pela tolerância, pela igualdade, pela fraternidade.
Tal constatação é inequívoca e insofismável. A sublime instituição contribuiu incisiva e enfaticamente nos movimentos libertários e revolucionários que mudaram e imprimiram de forma indelével o destino de nossa civilização.
Os eventos são inúmeros. Na revolução francesa, nos movimentos revolucionários que varreram a Europa na metade de século XIX, nos movimentos libertários e de unificação da Itália, nas lutas da instituição em Portugal nos séculos XIX e XX. Na formação dos Estados Unidos da América do Norte e seus primeiros governos, nos movimentos abolicionistas e libertários do continente sul-americano, como Brasil e outros, nas lutas contra sistemas ditatoriais como no Chile na segunda metade do século XX e tantos outros não tão divulgados ou mesmo conhecidos, todos em prol de um mesmo ideal.
02 – A Efetiva Vocação da Maçonaria
Em nossas sessões, durante a ritualística, por exemplo, naquelas que adotam o Rito Escocês Antigo e Aceito, em dado instante é argüido ao Primeiro Vigilante: - Para que nos reunimos aqui, meu Irmão?
Todos sabem a resposta, mas vale a pena, aqui reiterar:
- Para combater a tirania, a ignorância, os preconceitos e os erros e glorificar o Direito, a Justiça e a Verdade. Para promover o bem-estar da Pátria e da Humanidade, levantando templos à Virtude e cavando masmorras ao vício (conforme ritual adotado pela GLESP – edição junho/2005).
Será mesmo que, efetivamente, exercemos e cumprimos, sempre, tais assertivas?
Será que, talvez, de alguns idos para cá, não tenhamos, de certa forma, algum afastamento de nossos originais objetivos?
Pensem durante alguns minutos, como deveria ser, por exemplo, a pauta de uma sessão em que participasse Voltaire. Ou de outras, aqui mesmo no Brasil, contando com a presença de Gonçalves Ledo. Que temas seriam tratados?
Vamos dar alguns exemplos, do que, com todo respeito, trata-se em muitas sessões no presente, nas mais variadas Oficinas:
- leitura dos famosos “Boletins” informando quem assumiu um cargo de não sei o que lá na longínqua potência a quem somos filiados, substituindo alguém que nunca conhecemos para exercer o que não temos jamais a menor idéia.
- alguém que foi iniciado, promovido, ou afastado de um lugar, que não nos é familiar, em absoluto.
- leitura integral dos Balaústres de sessões já ocorridas, e não rara ocasião em que alguém se levanta e pede para mudar uma frase, corrigir isso ou aquilo, de menor importância, que afinal depois nunca mais será lido, por quem quer que seja e com muita sorte, o tal livro, não será perdido.
- discussões sobre jantares, churrascos e outras festividades, muitas vezes ocupando, posição de destaque na ordem do dia.
- outros eventos festivos, como pasmem “peladas” entre irmãos.
- discussões intermináveis e que muitas vezes provocam verdadeiras crises nas Lojas, envolvendo mensalidades, taxas e outras necessidades, ditas “imperiosas”.
- tratativa de auxilio doações ou outras beneficências a não irmãos do quadro, que não obstante louváveis quanto ao aspecto humanístico, não são de nossa vocação prioritária.
- discussões homéricas, envolvendo brigas entre irmãos da oficina, relativamente a negócios profanos promovidos e mal resolvidos entre eles, e que levam o assunto para dentro do Templo, exigindo que sejam tomadas “providências”, pelos oficiais do quadro, visando inclusive quites definitivos, que normalmente acabam por “rachar” a Loja.
Assim, com tantas ocupações, que tempo nos sobra para, efetivamente, cumprir a missão para as quais, fomos, verdadeiramente, instados?
Isto não equivale afirmarmos que sejamos frívolos ou inconseqüentes, mas que nossos esforços poderiam ser mais bem diligenciados, resultando mais nobres e edificantes.
3 – Nosso corpo efetivo
Se observarmos a composição de nossos quadros atuais, muito provavelmente, constataremos que a maioria esmagadora dos Irmãos, pertence a uma casta relevante na sociedade anterior, seja educativa ou profissional.
Profissionais liberais, comerciantes, empresários, executivos, professores, em suma, dentro das limitações da realidade nacional, gente em geral bem sucedidas, ou com fortes tendências para tal.
É Também sintomático, observarmos que nossos oficiais atuais, com menos de quarenta anos, ostentam em sua maioria, grau universitário, pertencente que somos de um país em que, lamentavelmente contempla um grande número de semi ou totalmente analfabetos, com dois terços de sua população que não cursaram o segundo grau e quando o fizeram, o resultado é desacalentador.
Assim é que quando indicamos alguém para eventualmente, for iniciado em nossas hostes, escolhemos, quase sempre, pessoas que também pertençam ao nosso convívio social, e que, portanto, integrem também à mesma casta, tornando-se assim um circulo vicioso em nossa sublime instituição.
Além disso, há um óbice significativo para entrada ou não de um profano em nosso meio. Trata-se da identificação se o referido pode arcar com as responsabilidades financeiras exigidas pela Ordem. Tal fator elimina, muitas vezes, um eventual candidato, não obstante nossos landmarks, não fazerem qualquer alusão a tal necessidade.
Exige-se, portanto do candidato que não apenas compartilhe com as despesas da Loja, mas com outras e muitas outras, envolvendo a Potência, afinal de contas, muita gente precisa mesmo viajar aos quatro cantos do país e mesmo do mundo, com nosso dinheiro.
Outrossim, não é incomum, observarmos entre Irmãos, comentário do tipo:
- aquele ali, não é maçom ainda, porque não foi iniciado, mas trata-se de um verdadeiro maçom, ou maçom sem avental.
04- O progresso dos Irmãos na Maçonaria.
De modo geral, em aproximadamente dois anos depois de iniciado, o maçom atinge seu mais alto grau na chamada “Loja de base”, tornando-se assim Mestre Maçom.
Certo é que em tal período intercorrido, não raro, identificamos mudanças positivas no referido, seja em aspectos conceituais, filosóficos e mesmo comportamentais, mas normalmente, não são extremamente significativos.
Tal evento decorre, muito possivelmente, pelo fato de que já antes de ser iniciado, o Irmão tem as mesmas noções, opiniões, estudos e grau de conhecimento do que os ditos mestres maçons. Tais relativamente nos campos da tolerância religiosa, conceituações políticas, sentimentos de fraternidade, liberdade, igualdade, restando-lhe, praticamente e tão somente, um bom aprendizado nas questões ritualísticas e simbólicas, pertinentes aos vários graus nas oficinas de base.
A grande verdade é que o iniciado, salvo exceções, já detém quase que noventa por cento do conhecimento para atingir os graus superiores, e se por acaso não os detiver, muito possivelmente, possa ser barrado, antes mesmo de sua entrada.
Resulta assim que o referido Irmão torna-se Mestre Maçom de ninguém, porque sequer precisa de alunos.
05 – Um outro e novo tipo de maçom
Em face às considerações anteriormente citadas, podemos agora sugerir e propor um novo tipo de maçom a acrescer em nossas colunas.
Trata-se do maçom “agregado”, de pessoas mais simples, tanto nas áreas de conhecimento, como de status social e ou econômico.
Em suma, maçons mais pobres, retornando aos antigos conceitos nos qual a instituição foi fundada, não pela elite dominante, mas por pedreiros de ofício, os francos-maçons ou freemaçons, como queiram.
06 – Maçons Agregado
Além dos requisitos de praxe, seriam acrescidos os seguintes:
- não poderia auferir rendimentos no mundo profano, superior a cinco salários mínimos.
- não poderia ostentar grau universitário.
Ao referido não seriam cobradas taxas de quaisquer espécies, paramentos, rituais, mensalidades ou outras cobranças, em caráter permanente, a menos que deixe de ocupar os requisitos extraordinários supra citados.
Todas as despesas decorrentes seriam cobertas pela Loja, inclusive, caso necessário, pelo uso das Bolsas Beneficentes para o Tronco de Solidariedade.
Para minimização das despesas, uso preferencial de paramentos e rituais usados.
07 – Aprendizados ao Maçom Agregado
O iniciado receberia treinamento, além dos já existentes em matérias que versariam, entre outras:
- tolerância religiosa;
- geopolítica;
- família;
- filosofia;
- história da Maçonaria.
Tais matérias seriam ministradas em Loja, em sessões específicas por Mestres-Maçons, que preparariam com antecedência o desenvolvimento da temática.
A passagem para os graus de Companheiro até culminar em Mestre-Maçom, seria, naturalmente, mais lenta do que os outros e prorrogada, no mínimo, por três anos, objetivando cumprimento de tão largo e laborioso aprendizado.
Não haveria período de interstício mínimo obrigatório, ao contrário, para as passagens de grau, haveria não só provas orais e escritas a respeito, mas ainda ficariam sob o crivo de uma comissão julgadora, formada pelos Mestres Instalados da Oficina.
08 – Implantações dos Maçons Agregados nas Oficinas
A colocação de tal grupo na Loja, seria paripassu, iniciando-se com um ou dois candidatos a tal mister, em médio prazo, dez por cento do quadro regular da Loja, até atingir-se a meta de cinqüenta por cento do quadro normal.
Como resultado de tão árduo mister, teríamos um grupo, mais heterogêneo, maior e, sobretudo de uma penetração mais ampla na comunidade e ainda mais atividades aos nossos ilustres componentes.
Uma maçonaria para muitos e não poucos.
Se no mundo que nos cerca, tanto tem se feito para minimizar os sofrimentos dos menos privilegiados, para haver uma menor exclusão social, pelo politicamente correto, não seria possível fazermos um esforço em tal sentido?
Porque afinal, apenas os templos religiosos, muitos, pouco nobres e mais visando coleta de dinheiro através de donativos, cada vez tem maior freqüência, porque não, realizarmos algo com essa gente, decente e edificante?
Porque não, passarmos do teórico ao prático em nossos conceitos?
09 – Criticas a respeito
Quase que certamente se tal trabalho ou assunto, vier à baila em uma Oficina, (que na verdade nos estimulou a escrever este trabalho), serão normais muitas objeções a respeito.
Podem-se antever velhas ladainhas, do tipo;
- o maçom-agregado, iria se sentir, segregado.
- não teria como participar dos ágapes fraternais, pois não teria dinheiro para tanto.
- demoraria muito para entender nossa filosofia.
- as famílias referentes aos maçons outros e aqueles agregados, teriam um difícil convívio, por pertencerem a diferente nível social.
A questão da segregação, só depende de como os demais Irmãos se comportem com os referidos agregados. Provavelmente, consistirá num belo treinamento para os Irmãos colocarem em prática os propalados sentimentos de igualdade e fraternidade.
No tocante a jantares, para tudo há uma solução inteligente, que passa, desde ratear o referido gasto entre os demais, como cobrar parte do referido. Será que um prato de comida, será o motivo suficiente para inibir a entrada de alguém da Maçonaria?
No tocante ao desenvolvimento do maçom agregado, seria saudável aquela conhecida resposta conceitual de que: “se o aluno não aprendeu, muito provavelmente, seu professor não soube ensinar”.
Quanto à questão das famílias, até mesmo os “lordes” no passado, participavam de atividades sociais com seus servos. Não é mesmo factível tal convivência nos dias de hoje?
Aos críticos de tal propositura, poderíamos acrescentar que em base a tais distorções, gente, muito boa, seria impedida de entrar em nossas hostes, como Sócrates e Gandhi, por exemplo.
E o pior, até mesmo Jesus, seria barrado de adentrar em nossos Augustos Mistérios.
Acorda Maçonaria do Brasil!
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