Erasmo Figueira Chaves
Todos os anos, aladas,
nos meses de Agosto/Setembro,
com pompa e coorte real,
visitam-me as maritacas, ou maitacas,
ou jandaias, verdes e amarelas,às vezes de fronte vermelho alaranjada,
com costumeiro alarido, uso e abuso
da algazarra alegre de matracas
em seus vôos multicores.
Vêm aos bandos pousar
na enorme suinã
que preside majestosa
a área do meu jardim.
De longe vêm,
de além , das matas e selvas,
cansadas mas despertas,
maritacas verdes e amarelas,
confundir-se ou destacar-se
no vermelho alaranjado, dourado da floração,
com suas asas abertas,
a mostrar o abdômen de amarelo fascinante, e parte das rémiges azuis,
a pousar suavemente nos galhos prenhes,
cheios de flores e rebrotos de coral,
dessa espevitada, desajeitada, mas robusta árvore,
que ousa ainda impôr-se pomposa a tal repasto geral.
As maritacas atacam
voraz e ávidamente
bicando, degustando seus incandescentes, suculentos
brotos e rebrotos
e
maritaqueando, alvoroçadas, ou em suave crocitar,
logo ao amanhecer,
até estarem refeitas, satisfeitas, fartas, fortes e almoçadas.
Aí, voam e revoam
e voltam a descansar, ao quase imperceptível crocitar e a pastar.
Sempre em alegre alvoroço, inquietas,
a debandar em seguida num constante revoar,
ir e vir em revoadas
até o dia seguinte, repetindo-se as visitas
ininterruptamente até toda a florescência cessar de brotar
e finalmente fenecer.
São semanas de riqueza e luminosidade ! . . .
Momentos a reviver, em saudade ! . . .
Até o ano que vem, maritacas de além ! . . .
- 2 -
Maritacas verdes, amarelas,
tão belas como só elas ! . . .
Como o país nosso e delas ! . . .
Maritacas verdes e amarelas,
que vêm a cada ano visitar-me
com seu algaravio, alvoroço alegre, vibração, pompa, canto e cerimônia,
frente às janelas da casa do Caí,
desta mansão mansidão, que se ilumina
todo o dia, pelo Sol a pôr-se,
bola de fogo, vermelho, alaranjado,
atrás da Serra do Japi,
que resplandece ao revê-las,
amigas, maritacas verdes e amarelas,
tão tagarelas e belas,
a enriquecer-me os dias
já claros de envelhecer,
com a paz e encantamento que meus olhos podem ver,
a alma reconhecer
e contrita agradecer . . .
Cabreúva, 3 – 9 - 2000
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