ERASMO FIGUEIRA CHAVES
Quanto mais belas são elas
brilhando ao sol do poente,
aos pares ou paralelas
de branco resplandecente
Mais parecem aquarelas
de paisagens divinais,
Mas são mais do que querelas,
são perigos infernais.
Parecem tapetes brancos,
ou aves brancas sem penas,
que a dar trancos e barrancos,
encenam na arena, cenas
Vôam, mas não são aves.
Confundem, essas espumas doentes,
Ácidas, são do progresso os entraves,
lotam os rios, abundam nos espaços e leitos decadentes,
deletéreas pra saúde dos viventes
E a vida silvestre muda
de vital para doente,
antes, aroma de arruda,
infecto é hoje, indecente ! . . .
o vento, o ar tudo muda
empestando o ambiente
Foram-se as aves de pena,
fugiram destas barrancas
(tristes, com pena a chorar,
rápidas se foram com Senna,
sem poder ser nem amar)
ficaram espumas brancas
no lugar das aves santas
Vê-las decrépitas nas margens
já fétidas dos manguezais,
côrte espectral, sem ter pagens,
são intrusas marginais
Esse progresso às avessas,
essa tamanha impostura,
essas nuvens tão espessas
de escárnio e imundo leito,
essa bacia das almas
de nome pretencioso
que é desenvolvimento,
essa enorme travessura
que a Baal só presta preito
em imunda varredura,
esse mundo poluído,
de vê-lo assim, tão doído,
só de pura mente impura
que o mal tenha concebido,
sem importar-se com a agrura
da vida sã, santa e pura,
pode um dia ter surgido.
Cábreúva, 24 – 8 - 2000
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