A casa de São João do Cai
Erasmo Figueira Chaves
A minha casa é aberta,
como abertos são meus braços
a abraçar a quem amo.
A minha casa é aberta
como os braços de uma cruz,
simbólica expressão da fé,
a repousar sacrifícios.
Resplandecente de sol,
é simples, sem artifícios.
Nela não existem cercas
a impedir que alguém entre
a propor de melhor mente,
um coração são e quente.
Nela amigos são presentes,
mesmo quando estão ausentes
e, de inimigos latentes,
de gratuitos imprudentes,
jamais se inferem assentes,
nem ali criam sementes.
A minha casa é aberta
aos aromas do pomar,
às idéias a rolar
anseios de bem estar,
ao diálogo a edificar,
às virtudes a somar
à plenitude do lar,
franqueza de par em par
nas aragens do lugar.
A minha casa é aberta
ao que à Paz vier juntar
a ética e o bem labutar.
Mas ela é também aberta
a quem queira melhorar
o que venha a encontrar
de impróprio, inédito ou vulgar;
franqueio a quem se achegar,
a quem se proponha amar,
pensar, lutar ou criar;
a evitar que se acoitem
vícios, ódio, mal estar
e a juntar a voz aos atos
de justiça e amor impar.
Que essa liberdade seja
o impedimento único
que constranja atrevimento
e produza “advimento”
do melhor entendimento! . . .
Com Adendos: 25/4/2009
. . .Marcos 8:18: “TENDO OLHOS NÃO VEDES,”
Para que serve o poder
Se não vedes a que serve? . . .
Vê-o o Profeta
Vê-o o Poeta
Vê-o o esteta
Vê-o o Asceta
Vê-o o exegeta
Vê-o o mísero na sarjeta
Vê-o em delírio o pateta,
Seja doente ou capeta,
Do jeito que bem quiser.
Até o cego vê bem
Na dimensão do que tem ! . . .
Vê por ver, por querer ver,
Pela lúcida transparência,
Por nela aspirar viver,
Pela vontade de ter
Mensagem a que se ater
Aos desígnios do seu ser,
Num autêntico e constante amanhecer ! . . .
Mas não o vê o dependente da teta
da sinecura, mamata,
sem ética, pleno egoísta,
egocêntrico, leviano,
amigo da insana treta,
do engano, da astúcia, do ardil, do estratagema e da manha.
Portanto, só não vê quem não quer ver
argueiro na própria retina,
Nem palmo à frente do seu nariz,
Ego enrustido e inculto
A perverter e, a corromper-se de estulto,
Tudo em volta, até morrer,
Cálculo e ódio a carcomer
As entranhas do poder,
Engendrado pra Servir,
Mas só usado a servir-se,
Sem perguntar-se da origem
Ao povo, que pouco vê.
(Cento e oitenta “diretores”
Para SERVIR do poder seus detentores,
os oitenta senhores Senadores . . . )
(+ a fanfarra indiscriminada das etéreas viajens aéreas)
Em geral o poder não vê,
A essência, a missão, a transparência,
Em si , nada prevê contra “egrégios seus poderes",
Pois seu exaltado ego não o permite e não quer! . . .
Não orienta ou ensina,
Não educa, nem o prioriza, por tal não ser SOBERANO nem vital,
seu INTRÍNSECO interesse,
(salvo raras exceções em raríssimas ocasiões)
Onde estás austeridade,
a requerer maturidade,
ordem e prioridade? . . .
Onde estás, onde estás, onde te escondes, na presente circunstância? . . .
Por não ter olhos pra ver,
Nem alma para sentir,
nem mente para prever,
nem ouvidos para ouvir,
nem coração a latir,
Por não ter nada a perder
Nessa aura em que se enleva, o poder,
Sem esperar obter
Na vida dentro da vida
A Verdade transcendente, como é lida
Sem consciência inibida.
Insensível como é a luta,
Digna, forte e plena lida,
Como é tão bem concebida,
Sem sentir como ela é tida
Na geração do saber,
Do honesto e do culto conceber! . . .
Erasmo Figueira Chaves
Cabreúva 7/4/2009
“ Deus não joga dados”
Albert Einstein
Os dados que Deus não joga
Por deplorar o azar,
Não reclamam qualquer paga
Sobre a sorte no jogar,
Não sentenciam de toga
Nem se cobrem de pesar,
Pela falta que não traga
Resultados ao rolar,
Só prazer ao ego afaga
Vocação do seu brincar,
No revolto humor da vaga
Nessa paixão aziaga
Que espraia lúdico brindar,
Como vai-vem e descarga
Da espuma branca a orlar
A praia do meu lugar,
Como ação simples de abarga
Sob o sol do imenso mar
Ou prateado luar
A pescar sem se cansar,
Como o bem e o mal à ilharga
Esmorecem, até acabar,
- infalível teriaga
Contra quem não sabe amar,
Como quem espera vaga
Na fila do bem-estar –
Como a fé, esteira ou saga
Vão e vem, além do mar
Com nuances de quem roga
Sem pressa de terminar.
Simples ação que não voga
Nas vagas que Deus mandar.
Não são os simplórios dados
Mas apenas viciados
No vício do mero azar,
Pois vida suspensa em soga,
Pondo em risco o livre arbítrio,
Quer logo se libertar
Sem perguntar se é adarga,
Bálsamo, acinte ou adaga
Pra consciência testar,
Sem ciência do que amarga
A essência que se jogar.
CANAS ABANADAS PELO VENTO
Erasmo Figueira Chaves
ONTEM, PENDIAM TODAS,
CURVANDO-SE SUBSERVIENTES
AO FARFALHAR BARULHENTO
DO VENTO CÁLIDO DA TARDE,
APONTANDO O SEU PENACHO
COMO UMA AGULHA IMANTADA...
(E O SOL A PÔR-SE,
LÁ POR DETRÁS DO RIACHO...)
SEDENTAS, OBEDIENTES . . .
HOJE AO AMANHECER,
EM BARALHAR AGITADO,
IMITANDO O TOM DA VÉSPERA
COM BEM SIMPLÓRIA ATITUDE,
VERGAM-SE DÓCEIS, SEM PEJO,
AOS SOPROS FORTES, ARDENTES,
INDICANDO O SOL NASCENTE,
QUE ONTEM ERA POENTE...
CANAS ABANADAS PELO VENTO
SILVANDO AO SOPRO DOS AIS,
AO SABOR DOS CARDEAIS
PONTOS QUE NAVEGAIS
SEM RUMO,
SEM LEME,
...SEM PRUMO ! ! !
LASSIDÃO.
SÁFARA COLHEITA.
DOCILIDADE SEM SUMO.
MOBILIDADE DE ANÃO.
LIMITES À LIBERDADE
DE OBEDIENCIA SEM CALMA,
SEM TER ORIGEM NA ALMA,
MIRAGEM ESTÉRIL DE OÁSIS
NA IMENSIDÃO DE PROPOSTAS . . .
NÉSCIAS PROMESSAS QUE AMAIS,
QUIMERAS EM QUE ACREDITAIS,
FALÁCIAS VÃS QUE ASPIRAIS,
CONVITES VIS QUE CLAMAIS,
QUANDO EM MEROS VEGETAIS
VOS TORNAIS,
SEM QUE O SINTAIS, OU SABAIS,
...O QUE SÃO CANAVIAIS!...
Ao redor do sentimento
"Homenagem a Fernando Pessoa"
Erasmo Figueira Chaves
Como posso não sentir
Se tal sentir, mais o sinto
Na dimensão de autêntico sentimento,
cuja razão, muito além do meu tormento,
ultrapassa perfeito entendimento.
Pois ". . . nem sei bem se sou eu
Quem em mim sente. . ."
Ou a sentir
Sinto o sentir de toda a gente,
Quando sinto tão profundo
E bem presente,
a sentir perfeitamente
o que sente quem na dor,
ou no Amor,
jamais se nega
ou se mente.
Cabreúva, 21/9/2008
S.P. - Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário