Erasmo Figueira Chaves
Pois é ! . .
. Mas é só pra quem é! . . . nas arcadas
da Sé ! . . . Ou às vezes, apenas: Pois
é! . . . Mas é só pra quem é! . . .
Frase, assim isolada, meio enigmática, obscura, sem conveniente explicação, mas com óbvia e escondida significação,
resulta aparentemente sem sentido,
embora ocasional, repentina e repetidamente soe a meus ouvidos surdos e
“moucos”, como eco ôco, sempre atentos à
lógica e racionalidade circundante ou reinante em memória distante, cegamente obedientes à minha mente, que
acredito estar sã, arguta, alerta, saudável, fundamentada, lúcida, sempre predisposta à perscrutação, à
razão pragmática, mas provável e
momentaneamente vazia, despreocupada
de apropriada sintonia, de
exigível e acurada visão interpretativa , quem sabe de aptidão desprendada,
despretensiosa, distante, dependente
unicamente de eventuais circunstâncias psicologicamente apropriadas. Essa frase musical, de gosto lírico que
entretanto, insistentemente soa à minha
mente como sugestão poética ou vinda magicamente de longínqua memória atávica, interjeição
cuja sugestiva origem perde-se pelos escaninhos do tempo ou em sutis neurônios,
nem sempre conscientemente acurados ou ativados, inteligíveis intelectualmente, mas talvez
seja sensação emotiva, sensitiva ou hipoteticamente apenas telurismo. Quem sabe? Premissas? Silogismos? Inferências ? Dúvidas? Quem as não tem? Busco compreendê-las. Tento entender o porquê dessa ancestral risonha repetição sugestiva.
Na minha tenra infância ouvi, ouvi teimosa e claramente essa frase em
repetidas ocasiões, de meu avô Alfredo, que nasceu na época da Monarquia, homem
arguto , inteligente, perceptivo, crítico sutil, de olhar penetrante, agudo mas bondoso, sempre sorridente e que tinha constantemente
certa ironia e humor no que dizia, a
quem eu então, tão pequeno, não
entendia muito bem, mas hoje, com já
bons anos vividos, em tanta coisa e vivência, leitura e preparação, nesta
imensa seara de um mundo evolutivo, com ativada e reconfortante memória o venho a entender ou o
intuo perfeitamente bem, ao carinhosamente recordá-lo. Será que a frase
provinha originalmente dele ou significava claramente a repetição de um adágio
secular popular? Talvez venha daí esse
som tele inteligível pelas ondas da
percepção memorial de tudo o que é
possível recordar e, dar-lhe o verdadeiro conteúdo ou sentido, o que é perceptível ao espírito indagador de
um ser em formação evolutiva, ambientado emocional e criativamente sob a égide
de um globo terráqueo então despossuído de tantas oportunidades como hoje, de
boa (ou aceitável?) polêmica ou pretensa
comunicação pedagógica, tantas são as
benesses infinitas, acertos, incongruências, desafios gratos ou ingratos à
inteligência, ao ego culto ou inculto,
como são e sugerem presente e
constantemente a internet, o pai Google, as comunicações eletrônicas instantâneas
e a fantástica Web, que naquele então inexistentes, impensáveis, não favoreciam
a imediata ou pretensa solução dos enormes enigmas ou inquirições postos e
dispostos ao raciocínio, à mera inteligente intelectualidade e
cotidianidade.
A frase em
questão fala das “arcadas da Sé” no seu conjunto e começa com o assumir,
apropriar-se de um “Pois é !” . . .
condicionando-a a seguir por uma asseveração categórica, a de destinar-se apenas e
sobretudo “só pra quem é,!” . . . ou a
quem fosse. A quem se destinavam os
lugares, que estavam privilegiadamente colocados sobre as “arcadas laterais da Sé,” ou seja arcadas internas do
templo?: Evidente e historicamente
destinavam-se à nobreza ou representantes do reino. Onde estava ou escutava o povo? : Na
nave central do templo, abaixo das arcadas, geralmente amontoados ou de pé.
Mas, onde estavam os nobres, confortavelmente instalados e assentados em cima,
almofadados, sobre as arcadas laterais
e, o povo, obviamente naqueles tempos em
seu lugar, na nave central em baixo das
arcadas e em pé. Para quê? Para quê estavam nobres e povo juntos no
templo à mesma hora? : “Pois é” . . . : para escutar mensagem principalmente em
“latim,” obrigatoriamente, ou em linguagem quase sempre erudita, “idiomas” tais que popularmente dificilmente
entendiam ou interpretavam, mas só o
conseguiam eventualmente perceber um
pouco, os nobres, (talvez alguns)
(talvez porventura escassamente, os nobres ou os possuidores de alguma
preparação, ou seja a mensagem dirigia-se pois seguramente e só, “pra quem é”, ou
seja para quem era deveras “alguém”, que
tivesse preparação adequada para
entender o que o preletor, pároco, vigário ou bispo diziam, ou diriam.) Daí
esse som , ritmado, de perfeita
concordância métrica, sintonia e rima,
que toma verdadeiro sentido popular
corriqueiro, quando hoje alguém ironicamente remate uma frase que só tomará ou
dará verdadeira lógica e entendimento ao
interlocutor, se houver entre os circunstantes alguém preparado para
entendê-la: “Pois é! . . . Mas é só pra
quem é !!! nas arcadas da Sé ! . . .”
Quem eram os de alguma “valia,” na espécie de hipocondria e ligeireza conceitual, que
prevalecia naquelas eras distantes em que se formavam necessariamente esses
consensos tão risonhamente? Quem eram e onde estavam? Como era a sociedade
humana considerada? Estavam entre o
povo? Eram o povo? Ou estavam entre a
nobreza, que tantos privilégios adquirira? Compreende-se melhor agora a ironia
da frase, tão argutamente usada pelo povo, principal e potencialmente medroso
da eventual reação da inquisição ou
simplesmente da prisão por hipotética discricional , arbitrária ou unilateral
razão, só por emitir uma opinião?
Compreende-se
então melhor no presente, o que foi a marcha em busca por patamares maiores de
civilização e justiça, porquê um dia
surgiram os ideais iluminados da Democracia-republicana a estabelecer uma nova
ordem, a do governo do povo, para o povo e pelo povo, nova ordem que não era
necessariamente aquela oriunda do “ poder divino dos reis”, mas contrária a
ela, agora surgia a era do voto popular,
simplesmente isso, o voto do povo, que a partir daí o individualizava, o
igualava, o responsabilizava então e não o descriminava. Tanto e principalmente pelo Poder que agora
dele emanava através DA LEGÍTIMA EXPRESSÃO de sua vontade: o VOTO. Que tremenda responsabilidade e desafio !!!
Será que o povo entende presentemente essa
tremenda responsabilidade, essa tremenda evolução, ao fazer uso dessa
instrumentalidade fabulosa conquistada, posta ao seu dispor, do significado de seu poder, o voto, oportunidade
essa sim, divina e, transcendente ?
Será que o povo evoluiu tanto
culturalmente, desde então, no
verdadeiro e profundo entendimento, potencial e real, dos valores e diferenças
em jogo?, ou continua a abanar docilmente a cabeça, imprópria, inidônea, mal
calculada, interesseira, compulsiva , inculta e cordatamente, sem entender o puro “latim” que ainda lhe é
impingido? Que lhe é sub reptícia e
habilmente sugerido?
“Pois é ! .
. .” “Mas só pra quem é” . . . capaz de entender o
despautério, a grande tolice, o disparate ! . . . Mas o correto entendimento como sempre,
difícil e infelizmente vem a ser de todos igualmente. Continua a ser principalmente “pra quem é”. .
. sabichão habilíssimo por “profissão” pela vida inteira, na esfera do
Poder conceitual, sempre atualmente
delegado candidamente pelo povo, dos que
se constituem pomposamente “representantes servidores do povo”, da Nação, quando eleitos, ao seu mero e pessoal parecer
interpretativo, não necessariamente ético nem moral, mas afinal legal, pois foram legalmente pelo povo eleitos.
Quando discricionariamente, sem obedecer a qualquer freio moral ou ético,
quando egoisticamente lhes pareça
“justo, próprio ou digno”, quando desprezando até a negativa repercussão popular
momentânea, decidem soberanamente até legislar em causa própria, aumentando
seus próprios salários já astronômicos, tão desproporcionais aos do povo que os
elege cândida e repetidamente, deixando-os pessoalmente com sorriso nos
lábios, de consciência meramente
tranquila. O Poder, continua a ser, só pra quem é, ! . . .
nas arcadas da Sé !!!
Precisamos
estar preparados, alerta, conscientizarmo-nos todos, com ou sem fé , no que representa viver, sofrer
compreensivamente, motivar-nos a lutar
acurada, viril, inteligente, talvez erradamente, (quem sabe?) pelos lídimos
ideais do conhecimento, do entendimento das circunstâncias em que estamos todos
envolvidos, para não sermos mera
envoltura, como “cumplices” reais nas
tramoias de nossos democraticamente “eleitos” representantes. Estejamos lúcidos,
absolutamente cientes de que é na
EDUCAÇÃO, EDUCAÇÃO, EDUCAÇÃO, de cada um, onde mora florescente esperança fundamentada e de onde sorri generosamente a redenção da
Liberdade, Igualdade e Fraternidade ! . . “EDUCAÇÃO, ORDEM E PROGRESSO” eis um Lema mais consistente para a nossa
gloriosa Bandeira. Assim seremos um só
povo, digno, sábio, unido, sem descriminações e sem a necessidade do
confronto enigmático com pergunta
corriqueira de eventual risonho adágio
popular.
Exerçamos
com determinação diligente e inteligentemente os direitos humanos, hoje
disponíveis, embora ainda não devida e
suficientemente entendidos,
transformando-nos, valorizando-nos, dignificando-nos em primeiro lugar,
não apenas por consciente e madura vontade democrática própria tão necessária,
mas cultivando vivência ética e moral apropriadas e dignificantes, com a
consciência apurada da interdependência, com esforço esperançoso na prática
luta pacífica e profícua pela igualdade, pela qualidade, pelo conhecimento e
pelo bem de todos, embora sujeitos
e obrigados legal e periodicamente a cumprir compulsoriamente o
ritual do voto, hoje praticamente abstraídos do seu valioso e importante
significado. Dessa forma, voto vendido
ou comprado, mansa, inocente, ou
manhosamente levados, orientados e conduzidos por palavrórios balofos da
propaganda eleitoral enganosa, tão descaradamente ilusória ou
antidemocrática, nem ao menos nem
apenas, por sabermos muito bem,
compungida e claramente rever na história o horror retrospectivo que foi a
imposta era das galés! . . . Do olho por
olho e dente por dente, do que foi a incrível era inquisitorial, em que
simplesmente se queimava o “corpinho” de um infeliz para “caritativamente”
salvar-lhe a alma. Mas lutemos, lutemos
corajosamente, com dignidade insofismável e constância, inteligente e
pacificamente, por sabedoria, sem ódio,
sem qualquer espírito de vingança, tendo
no coração e na mente o sentido responsável do Amor ao próximo, da dignificação
pessoal e do profundo respeito ao BEM
COMÚM, dedicando generosamente à civilização a parcela de poder de que estamos
investidos, sobretudo conscientes do
propósito de votar bem, que é a nossa legítima arma de luta principal, junto ao
testemunho do exemplo e da palavra honesta, para escolher correta, idônea e
acuradamente o trigo são e puro, entre o montão de joio. Para ELEGER com
soberania e dignidade, sem sermos naturais dóceis instrumentos de nossas
particulares , secretas, inconfessáveis e impróprias ambições desmedidas,
quanto indevidas, elegendo em sanidade de propósito, nas condições que conduzem ao bem estar, à
salubridade da sociedade, à honestidade, ao real BEM COMÚM , nossos futuros
reais “representantes” e “servidores” do BEM, na ideal democracia,
republicana, representativa, informando-nos primeiramente, sabendo
perfeitamente bem de antemão quem é
quem, quem realmente são os que se
propõem à candidatura, o que pretendem, que potencial honestamente expressam,
que honrada, democrática e republicanamente, com inegável dignidade, poderão representar-nos competentemente como servidores dignos da
nação, e, portanto do povo que lhes delega o poder ! . . .
Cabreúva,
26/01//2013
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