Erasmo Figueira Chaves
“ Ao sentir de Fernando Pessoa”
Se amor
E dor acreditassem,
Prela mágica do sonho e do valor,
Serem juntos “poder são”, tão criativo,
Clarão de imenso filão
E nunca em tempo algum o inverso destrutivo,
E, se a “a dor que deveras sente”
Sentida “deveras” fosse,
Tão incondicionalmente,
Por quem “deveras” sentisse,
- sem acusações, nebulosos cálculos e tropeços da razão -
Aceitando os desafios da ação, da pena ou contrição
Como benção do sentir, na mente e coração,
Só sentiria a vida,
A valorá-la, a ponderá-la, a senti-la plena, eterna,
E não apenas feliz “enquanto dure” ou durasse,
Quem com valor, destemor,
“deveras” a vivesse,
A vivê-la ativo, como autor,
Co-autor, precursor autêntico, nunca ator “vividor”, mormente um “fingidor”,
E a não contrariá-la por descaso, temor e dúvida, insegurança ou cupidez,
Mas com sabedoria,
Sentindo-a como a sente o sentimento
Em inteireza, em dificultosa coerência,
Avaliando-a, compreendendo-a, afirmando-a, amando-a
Na totalidade do sentir puro, sincero
Da consciência sensível, logos que ao todo sente,
A cultivar semente
Vital germinadora de dignidade, independência, liberdade e plenitude,
Soberania
Da mais intima e profunda intimidade,
Sem jamais a si mentir-se
A
Que
Por vontade própria e espontânea
Tudo criaria ou a tudo abdicaria,
Na legítima vocação, em plenitude e perfeição,
No favor, entrega e fervor
Com que a
Dor
A aceitar-se no primor do seu langor, teor, fator ou cursor,
Como for,
Já sem pudor, quase indolor,
À própria dor, por amor
Se proporia . . .
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