Erasmo Figueira Chaves
É lá no RENASCIMENTO, onde, o pensamento excitante, titubeante, mas vibrante, relativamente livre, dinâmico, de pronto surge instigante, é quando as idéias e a arte, começam a funcionar com poder germinador avassalador. É lá, nesse ressurgir do promissor amanhecer, precisamente a partir daí, depois do obscurantismo, da escuridão de quase um milênio, que começam a brotar as ideias da Escola Pública, O Livre Exame, a vislumbrar-se conscientização, a ciência moderna, os Ensaios, Os Institutos, onde os espíritos valorosos especulativos, quanto investigadores, correndo tantas vezes riscos consideráveis, começam sabiamente a “iluminar” mentes e espírito, a produzir precursores e estágios de certa liberdade na concepção da dignidade humana, na reformulação ou nos reformadores, que conduzem ao iluminismo e iluministas e, estes à maravilhosa produção do pensamento vigoroso e vital, à criação do ensino público, este ensino ao esclarecimento dignificante e posteriormente a todo o estofo que vai formular o sub extrato fabulosamente crítico e redentor da República Democrática. Eis o regime que hoje perfilamos na República Democrática Brasileira, presidida por democrática Constituição, graças a Deus ! . . .Em política, como em qualquer outra área, quem fala para o povo, ou seus circunstantes, precisa conscientizar-se de uma verdade insofismável, já sentenciada pelo grande Montaigne em 1592, uma das figuras mais citadas das letras francesas: “ As palavras pertencem metade a quem as fala, a outra metade a quem as ouve”. (“Montaigne, 1592”) Daqui se depreende que a linguagem precisa ser proferida com a propriedade expressiva do perfil histórico presente e real de quem a use ou a esgrime: o perfil da dignidade, da coerência e da verdade reconhecida espontaneamente pelos ouvintes. Aqueles que realmente ouvem e querem ouvir. Metade do que disser pertence-lhe evidentemente, com a liberdade ou crédito eventual que lhe seja democrática e cortesmente reconhecida, a outra metade depende da CREDIBILIDADE que o ouvinte lhe atribua ou reconheça.Daí, o que diga ou disser, será bálsamo cicatrizante, orientação promissora, verdade reconhecida ou incontestável, exemplo a seguir, ou ao contrário, na melhor das hipóteses, será um deplorável depoimento, geralmente em silêncio repudiado.Esta expressão, tão aparentemente capciosa, ou ambígua, mas cheia de secreto e objetivo conteúdo, proferida nos primórdios do Renascimento, pelo grande pensador filósofo acima citado, pronunciada hoje ao acaso, na sua sucinta mas profunda simplicidade e conteúdo, sugere-nos, expressa-nos bem entretanto, oportunidade para extensa e intensa meditação democrático-republicana, pois ao tratar-se de sentença de grande significado, ao sugerir-se a imagem da VERDADE ou FALSIDADE projetada no segredo e uso, próprio ou impróprio das palavras, proferidas tantas vezes tão levianamente, por inconsistentes políticos faladores sem consistência, sem resistência às tentações e falácias, à demagogia, às falcatruas, ante a benevolência de certa assistência ou auditório, inocente ou não tão inocente, na simplória ânsia de angariar votos, custe o que custar, mesmo que seja à custa da própria dignidade ou da alheia, sem o devido respeito e dIscernimento pelo criterioso escrutínio das idéias expostas ao povo, de onde afinal “emana”, brota dignificante e florescente o poder, a proba e grandiosa liberdade de escolher, segundo o sagrado dispositivo constitucional do voto individual secreto que escolhe os Servidores do povo e da Nação. Porque este insano, insensato, caricato e ambicioso político descrito, obviamente reconhece no povo este poder divino, que lhe é nato, a duras penas finalmente conquistado, tenta manhosamente ou por caminhos tortuosos, aliciá-lo, manipulá-lo, suborná-lo, enganá-lo com a ínvia PALAVRA sedutora, buscando sempre calculadamente o seu particular e primeiro proveito.Tudo isto está inserido e diligentemente expresso com profundo significado na frase desse grande precursor do pensamento crítico, autor dos seus maravilhosos “Essais” que nos conduziriam mais tarde, com a participação de tantos outros fantásticos pensadores, cientistas, brilhantes intelectuais, pedagogos e iluministas, à Republica Democrática, aquela que veio a derrubar a super poderosa Monarquia Absolutista do “poder Divino dos Reis”, que detinha ávida e ferreamente, O PODER ABSOLUTO sobre o destino, a vida e a morte dos concidadãos, e, o transfere agora para o poder Divino do povo, divina e inspiradoramente transferido constitucionalmente, como e onde efetivamente se consubstancia e consagra civilizadamente o voto secreto. Desde então passa o povo a ter de fato e de direito a sua tão aspirada soberania: “O PODER EMANA DO POVO !” Cabe a este, entretanto, estar alerta, bem alerta, desperto, consciente desse falatório barato, perseguidor, despropositado, falso, maroto, enganador, desleal, desonesto. Deve O POVO prevenir-se, preparar-se diligente e prudencialmente, instruir-se técnica, tática, ética, cultural e psiquicamente para administrar sua individual consciência com propriedade, inteligência, exercer com sentido de justiça o seu sentimento, testemunhar aos quatro ventos este poder divino que o responsabiliza tanto e o dignifica. É seu dever saber definir realmente o que é importante para o presente e para o futuro, para si e para a sociedade a que pertence, desenvolver consciência social do BEM COMUM, saber apuradamente escolher o trigo entre o joio e, votar, votar com convicção, sabedoria e probidade, votar conscientemente em quem tenha o mérito do trabalho honesto em benefício do povo, em quem tenha um currículo ético claro, de constante coerência, integridade, sem quaisquer manchas ou dubiedade. Essa é a essência da sanidade e da concepção correta do “PODER DO POVO!”. . .Tenhamos pois, muito em conspícua consideração e, meditemos seriamente, na velha e aparentemente capciosa, ardilosa mas lúcida frase, do sábio Montaigne: . . . “ As palavras pertencem metade a quem as fala, a outra metade a quem, as ouve” ! . . .
(Montaigne, 1592)
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