Erasmo Figueira Chaves
O Paladino da Educação, Cesário Motta Júnior, teve na cidade de Itú, em plena juventude, motivadora e importante experiência, influência, clara e fundamental em sua vida, revelada nos ideais republicanos que fervorosamente perfilou e o acompanharam sempre na sua breve, relevante e extraordinária biografia.
A destacada e íntima vivência com os personagens presentes à “Convenção de Itú” em 18 de Abril de 1873, na residência de Carlos Vasconcelos de Almeida Prado, local da primeira “Convenção Republicana do Brasil”, importantíssima, que passaria à história como a “Convenção de Itú”. Contou com a presença das principais lideranças políticas que trabalhavam pela implantação do regime republicano, tendo-se apresentado como delegados dos “clubes” republicanos de Campinas, Botucatu, Amparo, Jundiaí, Bragança Paulista, Constituição (depois Piracicaba), Jaú, Capivari, Itú, Itapetininga, Indaiatuba, Mogi-Mirim, Itatiba, Sorocaba, Porto Feliz, Vila do Monte Mor, Tietê, São Paulo e Rio de Janeiro, num total de 133, cento e trinta e três convencionais. Esse é o total das assinaturas que constam do livro de presenças à referida importantíssima e histórica reunião. Entre eles uma maioria esmagadora de maçons. Coincidência ou não: 133 é o número do Salmo bíblico, com que a maioria das lojas maçônicas no Brasil, do Rito Escocês Antigo e Aceito, iniciam seus trabalhos, dando-lhe leitura ritualística. A reunião tinha sido decidida para essa data 18 de Abril de 1873, por facilidades que esse dia traria no que se refere ao transporte de longas distâncias. Na véspera foi inaugurada a estrada de ferro ituana, que trouxe a Itú, monarquistas e republicanos. O sucesso foi pleno e total. Os resultados a história fartamente documenta.
O nosso Cesário Motta Júnior, muito jovem, embora não sendo necessariamente delegado oficial, ali estava presente, tendo acompanhado seu pai, na altura presidente do Partido Republicano de Porto Feliz. A transcrição que fazemos a seguir é sumamente importante, porque é feita do que se constituiu em “documento histórico” valiosíssimo. São as únicas anotações escritas pessoalmente por testemunha ocular, participante do encontro, que nos deixou esse legado descritivo, quanto interessante do evento, comumente conhecido como a primeira Convenção Republicana, realizada ainda no período imperial. Sem ele provavelmente não teríamos tido a consciência de sua importância histórica para Itú e para a história da República Brasileira. Assim , do próprio punho, eis como se expressa em conciso depoimento, Cesário Motta Júnior:
...”Em abril de 1873 devia se inaugurar a estrada de ferro de Jundiaí a Itú. Para essa ocasião, em que se faziam festas na última dessas cidades, fora marcada a “primeira” reunião dos republicanos da província.
Todos os municípios tiveram convites para se fazerem representar. Porto Feliz nomeou uma comissão.
Tendo feito ali várias conferências públicas, e auxiliado na organização do partido, fui nomeado, em companhia, entre outros de João da Silveira, de saudosa memória, do Dr. António de Toledo P. Almeida, Francisco Antonio de Toledo, de Joaquim Floriano Júnior, sinceros democratas que conservam puríssimo o entusiasmo que animava suas crenças políticas. Meu pai, fundador do clube foi conosco. Eu era ainda estudante. Terminadas as festas e reuniões escrevi numa carteira alguns apontamentos. São passados 17 anos; os acontecimentos produziram os desejados frutos. A cidade, em que se celebrou a primeira Convenção Republicana, recebeu o culto místico, de quantos aplaudem o advento da nova era. Dos companheiros de então, uns ocupam saliente e merecido lugar na nova instituição; outros, continuariam a se esforçar pela realização do ideal dos primitivos lutadores; outros finalmente, como João Tibiriçá, Quirino dos Santos e Rafael de Barros, à semelhança do profeta bíblico, chegaram ao Monte Nebo; não lhes foi dado atingir a terra da promissão.
Publicando estas notas, que nunca tiveram tal destino, deleito-me em recordar fatos que se tornaram cada dia mais importantes e, presto sincera homenagem aos mortos ilustres, cujos nomes não podem ser olvidados nas alegrias da vida, de uma causa, que era também a deles.”
Capivari, 1890 – Cesário Motta Jr.
Cesário Motta Júnior, paladino da Educação, foi altamente identificado com o princípio da Educação Democrática, como o seu contemporâneo, o grande líder republicano e intelectual Ruy Barbosa, ambos deputados federais, com quem certamente confabulou, tendo ele estabelecido, fundado princípios republicanos, as escolas, os institutos mais importantes do seu período, como o colégio para professores Caetano de Campos, a Escola Politécnica, que projetaram a Educação de São Paulo, aos melhores níveis de então, no Brasil.
O Paladino da Educação, o médico, o político, o maçon, o republicano, o inveterado democrata Cesário Motta Júnior disse certa vez, na inauguração de uma escola, em momento especial de conflagração e instabilidade política, obediente aos princípios fortemente arraigados que o formaram, simbolicamente, tão bem expressos na memorável “Convenção de Itú” :
“. . . Em momento tão aflitivo para a Pátria, estamos aqui reunidos em solenidade festiva; é que queremos, sem perturbar aqueles que defendem os nossos direitos, nossa consciência, nosso lar, nossa fortuna, mostrar que o verdadeiro ideal da democracia, não é a guerra, é a Paz; não é a anarquia, é a Ordem; não é a bala, é o Livro; não é a fortaleza, é a Escola !!! ;. . .”
Maravilhosas palavras pronunciadas no meio do século XIX. Dimensão e profundas convicções de uma brilhante mente democrática e humanitária. A redenção, em qualquer época e estágio civilizador, sempre inteligente e assertivamente descansou e descansará na
EDUCAÇÃO !... EDUCAÇÃO!... EDUCAÇÃO!...
Erasmo Figueira Chaves
Acadêmico da Acadil
Cadeira nº 31
Patrono: Cesário Motta Júnior
Nenhum comentário:
Postar um comentário