Posse do Presidente Benedito Cabral

A Academia Paulistana Maçônica de Letras realizou sessão solene de posse do Presidente Benedito Cabral, no dia 16 de julho, às 10 horas, na Avenida Paulista, 2001 - 13º andar, em São Paulo.
Almoço de Confraternização no Restaurante Picchi, Rua Oscar Freire, 533.

Posse Novos Acadêmicos

Álbum de Fotos do evento em comemoração aos 17 anos de fundação da Academia Paulistana Maçônica de Letras e da posse dos acadêmicos Luiz Flávio Borges D'Urso e José Maria Dias Neto.
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quarta-feira, 1 de julho de 2009

COMO TERÁ DITO POR VENTURA MICHELANGELO

ERASMO FIGUEIRA CHAVES
                                                                                  

Como terá dito Michelangelo Buonarroti, ante a pedra bruta a ser esculpida : “La Pietá”!  A obra prima aí está dentro! Vejo-a perfeita, acabada !  É preciso apenas retirar o que está  a mais, o excesso que impede aos mortais vê-la já pronta!...Parece que o grande gênio assim se expressou, ou, quem sabe, de forma muito parecida.   É como se a par da sua incomensurável genialidade  de artista, pintor ,arquiteto, poeta ,engenheiro militar, escultor, uma das figuras máximas da renascença, estivesse presente em seu espírito, também nesse momento,  atributos de grande pensador-filósofo.  Para a Arte e o artista, tudo está pronto na natureza.  É preciso  apenas  que a ação , a sensibilidade, o amor, de artífices e visionários  se manifeste e, mágica ou autoritáriamente a desnudem, aceitando a priori o consequente turbilhão e demanda de esforços, de dinamismo, cansaço compensador, determinação indômita, sabedoria inspiradora, compreensão, espera do tempo próprio,  amadurecimento, demandados a essa certeza e parto sublimes. Assim, como “La Pietá’”, surgiram também entre tantas das suas obras primas, a estátua de David, a     de Moisés,  O Julgamento Final, na Capela Sistina ,  a cúpula da Basílica de São Pedro. Suficiente e gloriosa consagração para um ser mortal que viveu hà aproximadamente 450 anos , solitária, simples mas soberbo e comunicativamente. até hoje ! . . .
Na natureza residem todas as respostas.   Alguém  duvida? O que é lamentável é que se leve tanto tempo da eternidade para formular  adequadas ou vocacionadas perguntas.   Há  aparentemente um temor pânico generalizado de dar sentido às palavras, de transitar por elas,  de acreditar nelas, de comprometer-se com elas,  de imprimir nelas o entusiasmo, o vigor , a autenticidade,  a emoção da certeza  e da convicção , de criar com elas imagens desafiantes e estimulantes, de formular com elas as perguntas candentes, talvez  em consequência  de milenar  prudência puritana ou farisaica educação que confunde a Verdade cristalina de  um ser natural, são , em busca de perfeição,  com  obtusa inteligência utilitária ou razão mesquimha e interesseira.  Não há como cultivar sentimentos edificantes, nem estimulá-los nos demais, sem o adequado uso das palavras, sem através delas confirmar  ou negar os atos ou por atos confirmá-las, na sua autenticidade, sem antes da ação porventura necessária, apalavrar com os diretamente co-interessados o obrigatório consenso.  Diz-nos  o último Nobel de literatura , o primeiro da língua portuguesa, o corajoso Saramago: “Ao  não usar as palavras, se perde o sentimento”. Sabe ele muito bem e nós podemos inferir muito  explicitamente , o que significa viver  sob uma ditadura de 45 anos , onde a cultura   se amolda a viver sem sentir a liberdade e sem poder ouví-la ou expressá-la  na palavra dos corajosos.  E os casais?  Comunicam-se todos idealmente bem, por palavras e sentimentos criativos,  por diálogo, além da cama? . . . Ou mesmo nela? . . .  É por isso que, em sua maioria , vivem na harmonia do amor e do respeito? Palavras consentâneas com o espírito de Verdade perene humanitária, sensível produto de um trabalho intelectivo pessoal de interêsse coletivo , refletindo inquestionável autenticidade, na eternidade de uma alma que nos está atribuída para fazer dela arauto  evolutivo, por atos  e palavras, sem mistérios insondáveis .   O mundo pode e deve ser melhor ? Pode mesmo?  Por   quê ?  Respondamos conscientemente, honestamente, independentemente, lealmente, pessoalmente, audívelmente com o dom divino da palavra, exercitando êsse instrumento mágico de um estágio avançado maravilhoso , na escala Darwinista,   para a comunicação  adequada de pessoas e povos  do produto mais sofisticado, computado por neurônios  em   milênios evolutivos  e na vivência de uma  rápida existência:  a capacidade de  formular criativamente as mais incríveis descobertas e comunicar idéias , ideais , dúvidas, certezas , aspirações , sentimentos.
Não podemos ser todos Michelangelos.  Certamente nem será preciso ! Mas podemos todos fazer um esforço por dignificar com algum talento e significado a palavra , hoje tão dilapidada, tão inibida, tão mal intencionada, tão desacreditada, tão falsamente propalada, tão vazia , tão hipócritamente manipulada e com péssima qualidade gramatical ,  nos meios de comunicação, nas campanhas publicitárias de políticos e partidos , sem o menor constrangimento ante a calúnia, a imaginação desvairada,  a ambição desmedida, a miserável pobreza  da matéria encefálica que a engendra, sem qualquer conteúdo válido e sério, o desrespeito total pela inteligência pragmática do bem e das pessoas, de quem em inocência, sanidade e pureza acredita na transcendência da bondade e do amor.  Se cada um fizer o seu pouquinho, por pouquimho que seja, com algum empenho e amor pela beleza, pela estética, pelas pessoas e suas relações, exercitando a palavra corretamente com sentido íntimo, público, verdadeiro, apropriadamente, cobrando de e em quem votou, por exemplo, dando ciência e satisfação a quem  de alguma forma demandou, exercitando com veemência, afeição e benevolência  a poesia recheada de verdade, renovada de vigor a cada dia, pela boa comunicação, reforçando a alegria  no trabalho, na intenção e na ação,  ofereceremos sentido ao que é dignidade, cidadania, democracia, soberania, razão, inteligência, mente, coração, humanidade, dignificaremos a vida e a sociedade, formularemos imagens e esculturas criativas que nos reconciliarão  com a certeza mais lídima e honesta do que há de perene, perfeito, eterno, bom , inspirador, gratificante,  à nossa espera, aí à nossa mão,  na incomensurável dimensão da natureza.

CABREÚVA,  20/10/1998

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