Posse do Presidente Benedito Cabral

A Academia Paulistana Maçônica de Letras realizou sessão solene de posse do Presidente Benedito Cabral, no dia 16 de julho, às 10 horas, na Avenida Paulista, 2001 - 13º andar, em São Paulo.
Almoço de Confraternização no Restaurante Picchi, Rua Oscar Freire, 533.

Posse Novos Acadêmicos

Álbum de Fotos do evento em comemoração aos 17 anos de fundação da Academia Paulistana Maçônica de Letras e da posse dos acadêmicos Luiz Flávio Borges D'Urso e José Maria Dias Neto.
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quarta-feira, 1 de julho de 2009

O BRASIL SOB A REGËNCIA ESPANHOLA E, ENTRE OUTRAS, UMA SAGA SOROCABANA.


Erasmo Figueira Chaves

Uma leitura rápida a ‘Iguatemi a Maldita’ romance histórico de Porphirio Rogich Vieira, sorocabano ilustre, editado postumamente no esforço e  histórico interesse do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba, pela liderança dinâmica e esforço pessoal de seu presidente, professor Adilson Cezar, sugere-nos logo a  destacada importância de vários fatos históricos, que nem sempre são objeto consagrado do interesse e conhecimento  geral, nem infelizmente são ensinados pela educação regular nas escolas ou constam sequer do currículo escolar corrente.
A vocação dos sorocabanos sobre o tropeirismo que os leva a formar em Sorocaba o maior mercado de tração e locomoção  animal do país, instrumento vital na  época para o desenvolvimento, integração e ação comercial e social do país, e os motivava às insanas tarefas de ir até o Prata, compondo comitivas descomunais, em busca de sua ‘matéria prima’ essencial quanto  de importância crucial, leva-nos incontinente, a rememorar fatos e episódios vifificantes da história Pátria.
Nesse livro, a descrição de Aluísio de Almeida, patrono do IHGGS, patente em seu respectivo Prefácio, já pronto na época de seu disciplinado e leal interesse histórico, em 20 de outubro de 1973, permite-nos com cristalina clareza visualizar, rememorar episódios e circunstâncias que vivificam  hoje a nossos olhos e mentes o heroísmo e vicissitudes a que se submeteram personagens e protagonistas de epopéias semelhantes aos primórdios de nossa história e iniciais descobertas, quando descreve com absoluta propriedade apresentando o romance  em seu Prefácio, citando o seu autor Porphirio Rogich Vieira.
“. . . Em a ‘Princesa dos Tropeiros’  o inteligente historiador sorocabano transpõe a ficção os seus notáveis conhecimentos sobre o Tropeirismo Sorocabano, introduzindo pessoas e fatos, cenas, costumes e episódios perfeitamente de acordo com a história. Neste o autor romancia um doloroso capítulo da História do Brasil, de São Paulo e de Sorocaba, que é a fundação, vida e  destruição de Iguatemi, situada no rio do mesmo nome, atualmente Estado de Mato Grosso do Sul. Descreve as viagens pelo Tietê, Paraná e Iguatemi para a condução dos povoadores, uma epopéia, cheia de perigos dos  Saltos, cachoeiras e corredeiras, dos índios e feras, da terrível malaria, então chamada carneirada e, os sofrimentos do mau regime alimentar.
Pinta os martírios e da doença, e as ameaças dos índios e dos castelhanos já na própria povoação. E o final da tragédia,  a invasão da praça pelos castelhanos vindos de Curuguati “ . . .
O ‘Diario de Navegação’, documento extraordinário escrito do próprio punho pelo Sargento-mor Teotonio Jose Juzarte, corrobora em detalhes e facetas, dia por dia durante aproximadamente dois anos, o que eram os empreendimentos de exploração, desbravamento e Monções, suas canseiras, problemas preparativos, perigos, incógnitas e desafios.  A grande expedição a Iguatemi, iniciada em 1769, tão detalhadamente documentada, está exposta na Biblioteca do Museu Paulista, assim como uma sua idêntica versão esta na  Biblioteca Nacional de Lisboa. 
Iguatemi era a fortaleza que pretendia mostrar aos castelhanos, lá no meio do interior e do oeste brasileiro , a soberania expressa pela saga heróica de entre tantos bandeirantes, pioneiros, exploradores, desbravadores, aventureiros e sorocabanos.
Quando em 1580, apenas aos 80 anos de descoberto o Brasil, a dinastia portuguesa de Avis, passando por periclitantes dificuldades de sucessão, ante o fato acabrunhante catastrófico do desaparecimento e morte em ufana quanto infortuna e funesta batalha, na de Alcácer Quibir em 1578, nas praias mediterrâneas do continente norte africano, o desaparecimento do brioso e voluntarioso Jovem rei D. Sebastao, com apenas 24 anos e, ainda por morte do inquisidor seu tio, o velho e doente cardeal D. Henrique, regente do trono, vem este, até então glorioso e exaltado reino, a cair, por laços de parentesco e direitos de hereditariedade e sucessão (e ainda por outras peripécias curiosas ou caprichos da história e da ambição humana), em mãos dos Felipes da Espanha, II e III, (Felipe II da Espanha e primeiro de Portugal, era neto do rei D.Manuel de Portugal) após ferrenha batalha imposta pelos patriotas portugueses, liderados por D. Antonio, prior do Crato, que se opunham a entrada do Duque de Alba em Portugal, a serviço do rei espanhol, que em bem  planejada estratégia militar invade Portugal, trava batalha em Lisboa, vencida facilmente por este, após escaramuças e debandada geral das forcas comandadas por D. Antonio, mal organizadas e ainda desmoralizadas pela frustração sem limites, referente ao evento do desaparecimento do jovem almejado e querido Rei D. Sebastiao.  . . .

Permaneceu portanto, a partir daí, Agosto de 1580, o glorioso e geograficamente pequeno país peninsular hispânico, iniciador das navegações e descobertas mais notáveis da história ocidental dos descobrimentos, com destaque mundial, em mãos da casa real da Espanha,  depois do esfusiante esplendor de mais de  dois séculos de glória, bravura endómita, tão bela e insuperavelmente cantada pelo glorioso Camões, pai estruturador da nossa   língua portuguesa,  em seu patriótico Lusíadas,

As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca dantes navegados,
Passaram ainda além da Tabrobana,
E em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
Entre gente remota edificaram
Novo reinho, que tanto sublimaram;

Prosperidade, glória e afirmação de sua real Independência de Espanha, pela qual tantos feitos transcendentes pelas armas engrandeceram Nun’Alvares e seus émulos, e pelo engenho, argúcia, coragem e visão de, expandindo-se no mar, mar até então conhecido como o “mar tenebroso,” a que havia que conquistar e superar para crescer e exisitr como nação digna e próspera. As fronteiras a leste negavam-lhes expansão e crescimento. Expansão e novas fronteiras estavam à frente. A glória viria pelo Oeste, dominando o mar! E isso foi feito! E com que feitos!
... É neste contexto e espírito visionário de heroicismo e grandeza que começa a delinear-se o futuro Brasil, o Brasil província, depois Reino Unido e finalmente o Brasil independente. Esse legado português de heroicismo e conquista foi o que incorporaram os arraigados bandeirantes, os navegadores costeiros, os exploradores e desbravadores do Tietê. Que sabor, beleza poética, sentimental dramatismo e profundo significado têm aqui as palavras tão patrioticamente sentidas do grande pensador e transcendente poeta Fernando Pessoa:
            Oh, mar salgado,
Quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos
Quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram,
Quantas noivas ficaram por casar.

Valeu a Pena?
Tudo vale a pena,
Se a alma não é pequena!...

Quem quiser passar além do bojador
Tem de passar além da dor!
Deus, que ao mar o abismo e os perigos deu
Nele é que espelhou o céu!...

            Depois da tempestade, virá a bonança? Demorou algum tempo! Como um fato histórico, influencia outro? !!! . . .
            Eis no entanto o agora manietado Portugal continental, ultramarino e colonial, depois de tanto esforço e glória, sob os mandos e desmandos da coroa espanhola até 1640, data da Restauração da monarquia lusitana, com a nova dinastia dos Bragança, com D. João IV à cabeça, permanecendo esse longo tempo entretanto, o território e a totalidade das colonias portuguesas, pelo menos em tese e jurisprudência, um longo período de 60 anos sob a administração da política e soberania espanhola. Criavam-se assim no entnato, condições extraordinárias para a penetração ao interior do Brasil, com explorações e expedições de todo o tipo, em busca de riquezas e expansão do desconhecido território, indo muito além dos limites estabelecidos pelo “Tratado de Tordesilhas”, que entretanto, pouco a pouco, deixva de ter sentido e vivência ou vigência, caindo sub-reptícia, oportunística, paulatina e consensualmente em desuso, pois tudo era na realidade agora território e soberania de Espanha, ou  melhor dizendo, território administrado sob a soberania da Casa dos Felipes, reis de Espanha e de Portugal ao mesmo tempo, e portanto, tudo o que se relacionava com essa soberania, era tratado com a maior condescendência, displicencia, ou quem sabe, relapsia. Pelo famoso tratado, em realidade, a Portugal pertenceriam apenas as terras a leste da linha imaginária que partindo de certa coordenada no polo norte, rumo ao sul, passava pela ponta de Pernambuco, indo terminar pouco abaixo de Cananéia, no litoral paulista. Isso, ou seja, o domínio jurídico e convencional da soberainia espanhola estabelecida portanto em mais de dois terços de todo o território da América do Sul, passou de repente a ser total, durante 60 escassos ou longos anos, dependendo da perspectiva do raciocínio, e explica talvez, em parte, a grandeza geográfica e territorial que arrebanhou, conquistou ou tomou assoberbadamente a dimensão do brasil, a partir daí, graças a essas condições políticas acidentais, na realidade excepcionais, permitindo aos Bandeirantes e aventureiros, de toda espécie e origem, iniciarem legitimamente a penetração rumo ao Oeste ou às costas do Pacífico, via interior do continente, já então sob domínio Espanhol, produzindo os fatos históricos conhecidos e consumados. E a estrada, o caminho ou curso ideal para essa expansão pacífica inicial, tão eficiente, sem conflitos de fronteira internacionais, foi prática e documentalmente o famoso e providencial Rio Anhambi, ou mais tarde Rio Tietê, levando, implantando e expandindo a língua dos desbravadores e descobridores, e a cultura que nos foi definindo e arraigando como um conglomerado sui generis de realidades ou valores culturais étnicos e éticos, ou em alguns casos isoladamente, aqui ou ali, nem tanto, primariamente de herança portuguesa, engra ou indigena, em autêntica unicidade luso/brasileira.
            O famoso Tratado de Tordesilhas realizado a 7 de Junho de 1494, entre Portugal e Espanha, antes portanto do descobrimento (ou encontro ?) do Brasil, como conseqüencia da pretendida descoberta da América por Colombo em 1492, mas que na realidade envolvia, o que veio a considerar-se, dúbios conceitos de hegemonia e direito civil e até “canônico”. Segundo alguns consagrados historiadores, tanto a América do norte, a Central e a do Sul, generalizadamente definidas como as Américas, já eram anteriormente perfeitamente conhecidas pelos reis de Portugal e de Espanha, pelas navegações de outros bravos marinheiros, como por exemplo Duarte Pacheco Pereira, os irmãos Corte Real, ou Vicente Añez Pinzón entre outros. Esse Tratado de Tordesilhas na realidade tornou-se uma convenção, um acordo “consensula”de certa forma forçado, entre as partes interessadas, para evitar conflitos maiores depois que o Papa Clemente VI declarara, a pedido da ávida Espanha, a “Blla”de 3 de Maio de 1493, a qual estabelecia, que, por uma linha imaginária traçada de polo a polo pertenceriam: o Ocidente à Espanha, e o Oriente a Portugal. O Tratado na realidade prejudicava Portugal. Mas o tempo, e o pêndulo da história, misteriosa e magnanimamente, auxiliado pelos que nele, o tempo, e com ele, intervieram com determinação e definição cristalina de esforço e ação, como às vezes acontece no histórico da existência dos povos, das pessoas ou das intituições, encarregou-se de corrigir as inconveniências, frustrações ou prováveis justiças ou injustiças do destinho. O Rio Tietê, esse acidente geográfico ou topográfico, de um rio nascido à beira do mar e rumando em seu longo curso para dentro do imenso continente, que possibilitou e foi de fato o instrumento a produzir realidades bem definidas, indiscutíveis e concretas de colonização e expansão caracteristicamente portuguesas, criou também as condições, as fundamentações, os fatos consumados irrecusáveis, que resultaram na concretação de novo outro famoso tratado: O de 1750, em Madrid, conhecido pelo nome de Tratado de Madrid, celebrado a 13 de Janeiro de 1750, entre D. João V de Portugal e D. Fernando VI de Espanha, ratificado por ambas as cortes em 26 do mesmo mês e em 7 de Fevereiro seguinte. Foi esse importante Tratado, que em grande parte veio desfazer as deficiências do tratado de Tordesilhas. Já sob Pombal, “o administrador terremoto”, como ficou conhecido, não só como o grande estadista reconstrutor de Lisboa depois do terremoto de 1755, mas por suas enormes reformas e intervenções radicais em toda a estrutura política e administrativa portuguesa e, no caso da Província do Brasil, determinando a obrigatoriedade do uso da língua portugeusa em todo o território da “Província”, além das notáveis e decididas providências imediatas que tomou pra enfrentar as conseqüencias do cataclismo de 1755 que destrui totalmente Lisboa, ficou definitivamente estabelecido e csagrado nesse novo “Tratado, entre Portugal e Espanha”, pelo qual as conquistas realizadas pelos paulistas sobre território espanhol, por todos aqueles anos anteriores, seriam mantidas sob a égide e soberania de Portugal.


Quando mais tarde vieram as bandeiras e os bandeirantes, que as faziam tremular patrioticamente sertão adentro, implantnado padrões em cada novo posto avançado, por esse caminho de bendita água clara infindável, ou por trechos barrentos pelas chuvas torrenciais, ainda as lendas ao redor de D. Sebastião, o jovem rei de 24 anos, místico e voluntarioso rei, de 1574, logo desaparecido na luta, obediente à romântica ou prática “doutrina da ação positiva”, embora não tão efetiva como se provou; lenda e lendas as mais diversas, alimentadas bem ao gosto sincrético das crenças populares, que tivram também alguma expressão sociológica, aqui na “província”do Brasil, prolongando e permitindo, principalmente no sertão do norte e nordeste, a difusão da religiosa crença, “o Sebastianismo”, alimentando até politicamente, de que algum dia haveria de voltar o jovem rei  desaparecido, do seu incógnito lugar, também para solução de nosos males e chagas, para resgatar aquela dourada época, esperança, pujança e realidade que resplandecera com as descobertas e implantação do Império Ultramarino, glórias e certezas que se foram e desapareceram à sua ausência e desaparecimento, mergulhando a nação e o país como um todo na pérdida de sua soberania, ams que, não obstante, pareceria continuar a empolgar ainda, nos séculos que se seguiram, aqueles bravos e rústicos usuários, visionários e crédulos mestres conhecedores incontestáveis da arte de marinhar, amantes das rusticidades e agruras dos sertões, do grande Rio Tietê, pilotos, remeiros, bandeirantes, exploradores e pesquisadores, que sonhavam grandeza e queriam refaze-la, aquela grandeza legendária, agora mais que nunca expressa na cobiça e na ambição de riqueza, reencarnando-a em suas vidas, acreditando e ouvindo ressoar, quem sabe, em ecos das recomendações, e conselhos camoneanos, daquele que “nem santo nem cético” recitava visionáriamente, em sua racionalidade poética, sempre profética, esperançosa, e no entnato, sempre inspiradora e desafiante, ao seu jovem, corajoso e voluntarioso rei Dom Sebastião:

Não se aprende,  Senhor, na fantasia,
Sonhando, imaginando ou estudando,
Senão vendo, tratando e pelejando.
                                                                                  Camões

Era a verdadeira expressão de um sentir popular, que em versos, surgiam espontaneos e tão lucidamente de sua pena, traduzindo assim o grande vate, glória de nossa língua pátria: a língua portuguesa, a amabição legítima do povo por realização concreta dos valores naturais de sua lusitaneidade, expressão de ação indómita de um espírito prático.

Assim, resumindo, pela necessidade  dos limites impostos na exigüidade de paginas condicionadas à confecção dos trabalhos pelos autores a esta obra,  Iguatemi  é uma esplendorosa e concreta expressão, entre muitas, do que na realidade era a fortaleza erigida pelos fortes, que tendo sempre defendido e conquistado o território graças as facilidades circunstanciais oferecidas pelo Tratado de Tordesilhas, o qual lhes era “legalmente permitido ludibriar”, durante o período em que o Brasil esteve sob a jurisdição espanhola, ou seja o Brasil espanhol, entre 1580 e 1640, data da restauração da Monarchia portuguesa, precisava agora defender o território a duras penas arduamente conquistado, desbravado,  verdadeiramente amado a cada passo da conquista pelos heróicos e destemidos barbudos daquelas eras, despreendidos de outro interesse que não fosse acirradamente verter seu sangue e alma para afirmar a conquista dos antepassados, tarefa em que se notabilizaram paulistas de todas as latitudes e  em particular sorocabanos. Por isso foi construída Iguatemi, a famosa fortaleza lã no longínquo interior do Brasil, no interior do Mato Grosso do Sul às margens do rio Iguatemi. Aí estão as ruínas  a lembrar-nos a valentia, a braveza, a epopeia dos que defenderam e afirmaram a nossa soberania em Iguatemi, defendida e conquistada tão penosamente a Espanha, naquela dúbia circunstância e longo período da regência espanhola dos Felipes,  de 1580 a 1640 em que permaneceu portanto, a partir daí, Agosto de 1580, o glorioso país, iniciador das navegações e descobertas mais notáveis da história mundial dos descobrimentos, em mãos da casa real de Espanha, depois do esplendor esfuziante de mais de dois séculos de glória.  

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